Guerra

Rússia e Ucrânia relatam novos ataques com drones

No dia em que Zelenski visita Tribunal de Haia, bombardeios atingem refinarias de petróleo russas

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Refinaria em chamas na região de Krasnodar, na Rússia - Telegram @kondratyevvi / AFP

Tanto a Ucrânia como a Rússia disseram que foram alvos de ataques nesta quinta-feira (04/05), incluindo dois que provocaram incêndios em refinarias de petróleo russas. Os bombardeios ocorreram no mesmo dia em que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visita seus aliados europeus em busca de mais apoio.

Logo no início do dia, as forças russas dispararam duas dúzias de drones de combate contra a Ucrânia, atingindo um campus universitário na cidade de Odessa, no Mar Negro, e atacando a capital do país, Kiev, pela terceira vez em apenas quatro dias.

Moscou tem intensificado os ataques enquanto a Ucrânia se prepara para uma contraofensiva para tentar retomar os territórios ocupados pelos russos no sul e no leste. Bombardeios russos na região de Kherson, no sul ucraniano, mataram ao menos 23 civis na quarta-feira.

O porta-voz da Força Aérea ucraniana Yuriy Ihnat afirmou que o exército russo está usando drones "kamikaze", que voam em direção ao alvo antes de explodirem, a fim de enfraquecer as defesas aéreas ucranianas.

"Eles sabem que [os drones] serão destruídos, estamos atualmente destruindo 80% deles, é assim que eles estão esgotando tanto nossa defesa aérea, obrigando-os a expor suas posições", disse Ihnat em entrevista na televisão.

Ao todo, as defesas aéreas derrubaram 18 dos 24 drones "kamikaze" lançados durante os ataques desta quinta-feira, segundo autoridades ucranianas. Não há relatos de vítimas.

Dos 15 drones disparados contra Odessa, 12 foram abatidos, mas três atingiram um campus universitário.

Um bombardeio na região de Donetsk ainda danificou uma usina elétrica da empresa de energia DTEK Energo, disseram a companhia e o Ministério de Energia ucraniano.

Ataques em Kiev

Em Kiev, a administração da cidade afirmou que mísseis, provavelmente balísticos, também foram usados no ataque, mas foram abatidos junto com todos os drones sobre a capital.

Mísseis balísticos são mais difíceis de abater, e a derrubada pode indicar que a Ucrânia usou contra eles sistemas de defesa aérea sofisticados fornecidos pelo Ocidente.

Autoridades de Kiev disseram que "objetos aéreos inimigos" foram derrubados sobre três distritos do centro da capital, e que os detritos caíram sobre cerca de dez edifícios.

"Como resultado da queda de detritos, carros estacionados [...] e ruas foram parcialmente danificados", afirmou Serhiy Popko, chefe da administração militar da cidade.

Segundo ele, é o terceiro dia de ataques contra a capital somente em maio. "Nossa cidade não experimentou tamanha intensidade de ataques desde o início deste ano."

Refinarias russas atingidas

A Rússia, por sua vez, afirmou nesta quinta-feira que um ataque de drones no assentamento de Ilsky, na região de Krasnodar, no sul do país, provocou um incêndio em uma refinaria de petróleo.

O governador de Krasnodar, Veniamin Kondratyev, disse que as chamas foram localizadas em uma área de 400 metros quadrados, mas foram rapidamente extintas pelos serviços de emergência.

Pouco depois, o governador da região russa de Rostov, que também faz fronteira com a Ucrânia, disse que um drone atingiu uma refinaria local perto do povoado de Kiselevka, causando uma explosão e um incêndio.

Na quarta-feira, um incêndio semelhante em um reservatório de petróleo no vilarejo vizinho de Volna se alastrou por 1.200 metros quadrados, com autoridades também culpando a queda de um drone.

No mesmo dia, Moscou disse ter derrubado dois drones apontados para a residência do presidente Vladimir Putin e acusou a Ucrânia de tentar um "ato terrorista". O Kremlin ameaçou reagir com uma resposta dura.

A Ucrânia negou qualquer envolvimento, e os aliados ocidentais do país também lançaram dúvidas sobre as acusações. "Não atacamos Putin ou Moscou", disse Zelenski em visita à Finlândia. "Apenas defendemos nossas aldeias e cidades."

Nesta quinta, o Kremlin acusou os Estados Unidos de terem planejado o ataque à residência de Putin. "As decisões sobre tais ataques não são tomadas em Kiev, mas em Washington", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. "Kiev só faz o que mandam fazer."

Zelenski em Haia

Os ataques ocorrem em meio a uma visita do presidente ucraniano a seus aliados ocidentais. Nesta quinta-feira, Zelenski esteve na sede do Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, na Holanda.

Em março, o tribunal emitiu um mandado de prisão contra Vladimir Putin, pela suposta deportação de crianças da Ucrânia. A Rússia, que não é membro do TPI e rejeita sua jurisdição, nega ter cometido atrocidades durante sua guerra contra a Ucrânia, que Moscou chama de "operação militar especial" para "desmilitarizar" seu vizinho.

Em sua primeira viagem oficial à Holanda, Zelenski foi recebido no TPI pelo presidente da entidade, o juiz Piotr Hofmanski. O tribunal disse que a visita durou menos de uma hora, mas não deu detalhes sobre o que foi discutido.

Ao deixar o TPI, o presidente ucraniano, vestindo suas tradicionais roupas cáqui, acenou para uma família ucraniana do lado de fora do prédio, enquanto eles gritavam "Slava Ukraini" (glória à Ucrânia).

Em seguida, Zelenski fez um discurso intitulado "Não há paz sem justiça para a Ucrânia", no qual ele afirmou que Putin deveria ser condenado por "suas ações criminosas".

"Todos nós queremos ver um Vladimir diferente aqui em Haia, aquele que merece ser sancionado por suas ações criminosas aqui, na capital do direito internacional. Eu tenho certeza que isso vai acontecer quando vencermos", disse o líder ucraniano.

Ainda nesta quinta em Haia, ele deve tem agendados também encontros com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e o premiê belga, Alexander De Croo.

Zelenski já visitou várias capitais estrangeiras desde a invasão de seu país pela Rússia, em fevereiro de 2022, incluindo Londres, Paris e Washington.

A Holanda tem sido um forte aliado da Ucrânia na guerra. Em fevereiro, o premiê Rutte afirmou que não descarta qualquer tipo de apoio militar a Kiev, desde que a Otan não se envolva diretamente na guerra.