Diplomacia

Lula comparece à coroação do Rei Charles III; cerimônia tem protesto antimonarquista

No dia anterior ao evento, presidente brasileiro ouviu promessa de aporte inglês de R$ 500 mi para Fundo Amazônia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Presidente brasileiro é o único líder do Brics a participar de cerimônia da monarquia britânica - Ian Jones

O presidente Lula (PT) participou na manhã deste sábado (06), em Londres da coroação do Rei Charles III e da rainha Camilla. Charles tem 74 anos e foi o monarca que mais esperou para chegar ao trono britânico. Lula acompanhou a cerimônia ao lado do presidente francês Emmanuel Macron.

Desde a sexta-feira (5), Lula e a primeira-dama Janja da Silva estão em agenda oficial na Inglaterra. Ainda antes da cerimônia de coroação Lula se encontrou com o ministro dos negócios estrangeiros James Cleverly.

Ontem Lula encontrou o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que prometeu um investimento de cerca de R$ 500 milhões no Fundo Amazônia, a maior política financeira de preservação ambiental do mundo. 

Na tarde deste sábado, Lula terá apenas uma declaração à imprensa e depois inicia sua volta ao Brasil. A chegada ao país está prevista para as 4h30 da manhã, horário de Brasília

Manifestantes presos 

Uma multidão contrária à realeza britânica foi ao evento com cartazes "abaixo a monarquia" e "não é meu rei". Segundo a Aliança de Movimentos Republicanos da Europa, a polícia prendeu organizadores do protesto.

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Um vídeo nas redes sociais mostra policiais confiscando bandeiras antimonarquistas no meio do protesto. Nas imagens, um manifestante alerta uma policial que o grupo está sendo "empurrado" pela polícia. "Há crianças aqui", diz o integrante do protesto. 

Colonialismo questionado

Após a morte da rainha Elizabeth II, em setembro de 2022, o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser afirmou em entrevista ao Brasil de Fato que o papel da realeza é "dissimular" o colonialismo.

"A monarquia acabou tendo esse tipo de representação, de um imaginário, e a figura da rainha, acho que era uma ideia de dissimular todas as associações do Império Britânico. Então por exemplo a guerra com Egito, não foi guerra. Invadiram o Egito. Inglaterra, França e Israel, na guerra do Suez em 1957 [invadiram o Egito]", destacou Nasser. "Mas isso tudo ficava com o primeiro-ministro, a rainha paira sobre o bem e o mal. Então se é uma função política que ela tem nesse momento do colonialismo é justamente não olhar para o colonialismo".

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O Império Britânico, com seu Parlamento e a família real de então, foram sócios fundamentais do comércio escravista e colonial. Com o sangue de milhões de africanos levados à força para monoculturas e de colônias ao redor do mundo, o Reino Unido desenvolveu sua economia e garantiu um papel de destaque na economia mundial.

A Commonwealth hoje reúne algumas das ex-colônias britânicas e uma parte de seus países reconhece Charles III como chefe de Estado. Com 56 países, a Commonwealth conta com países como Austrália, Camarões, Nigéria, África do Sul e Índia.

Mas há rachaduras e questionamentos. Em 2020, Barbados deixou de reconhecer Elizabeth II como monarca e se tornou uma república, embora tenha preferido continuar parte da Commonwealth. Jamaica e Antígua e Barbuda expressaram planos semelhantes recentemente.

Edição: Monyse Ravena