Exploração infantil

Como as crianças migrantes são exploradas nas fábricas dos Estados Unidos

Mão de obra que fabrica algumas das mais conhecidas marcas estadunidenses tem participação de crianças migrantes

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A Organização Internacional do Trabalho (OIT) decretou o dia 12 de Junho como Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) decretou o dia 12 de Junho como Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. - Reprodução

Depois de quase um ano de investigação em vinte estados norte-americanos, Hannah Dreier, jornalista do New York Times, publicou uma reportagem sobre a exploração de “milhares” de crianças migrantes que trabalham durante “longas horas."

Ao longo deste trabalho, ela processou as autoridades do país por demorarem a divulgar informação sobre os registros destas crianças, fez inúmeras “esperas” à porta das fábricas nas saídas dos turnos e falou com mais de uma centena delas.

A jornalista lembra que, apenas em dois anos, 250.000 crianças entraram sozinhas nos EUA. Para ela, seria esperado que o governo as colocasse em lares com adultos “confiáveis”, mas uma “maioria” tem sido entregue “a parentes distantes, conhecidos ou até estranhos”, uma vez que os seus pais não conseguiram entrar no país.

A partir de algumas crianças migrantes que tinham aulas de inglês como segunda língua, em Grand Rapids (Michigan), ela começou a descobrir que trabalhavam numa fábrica que produzia cereais para a conhecida marca Cheerios da General Mills. Isso não era nenhum segredo na região, e as publicações de algumas delas nas redes sociais deixavam isso claro. Só que o assunto estava longe de ser notícia num grande jornal mundial.

Dreier voltou a encontrar crianças, na maior parte vindas da América Central, em outras fábricas perto que trabalhavam para a Hearthside Food Solutions. Ela acrescenta que “esta força de trabalho clandestina se estende pelas indústrias de todos os estados, desrespeitando as leis de trabalho infantil em vigor há quase um século” e que “[a força de trabalho infantil] tem crescido lentamente há uma década, mas que explodiu desde 2021”.

Os relatos são de “exaustão” em fábricas, lavanderias comerciais, distribuição de refeições, entre outros trabalhos pesados. Os professores de inglês confirmaram ser “comum” que “quase todos os seus alunos saiam às pressas para longos turnos depois das aulas acabarem”. Muitas das marcas conhecidas do país beneficiam do trabalho infantil, apesar de não estarem diretamente implicadas. Caso da Pepsi, Walmart, Target, General Motors ou Ben and Jerrys’s.

Após a publicação da reportagem, o governo de Biden afirmou que iria reforçar os controles para proteger menores. Um grupo de democratas considera isso insuficiente e exige ações nas empresas e controle das famílias de acolhimento.

As autoridades de trabalho dos EUA explicaram, segundo a RFI, que tentam privilegiar a agilidade nos processos em detrimento de alguns controles obrigatórios para não colocar os menores nos centros de acolhimento que estão superlotados. No último ano fiscal, o ministério do Trabalho dos EUA identificou 835 empresas nas quais trabalharam cerca de 3.800 crianças e detectaram um aumento de 26% de trabalhos perigosos.