GUERRA

Premiê holandês elogia Lula por esforços de paz na Ucrânia

Mark Rutte explicou o motivo de ter fornecido armas a Kiev e Lula defendeu a necessidade de parar o conflito

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Rutte e Lula reforçaram o esforço conjunto em busca de uma matriz energética não poluente - Evaristo Sá/AFP

Em visita a Brasília, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, elogiou nesta terça-feira (9) os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na busca pela paz na Ucrânia, mas ressalvou que não podem ser feitas concessões que possam afetar a soberania ucraniana. Foi uma referência a uma declaração de Lula de que a Ucrânia deveria ceder a Crimeia à Rússia.

"A guerra é uma questão existencial", disse Rutte. "Não é apenas uma ameaça aos nossos valores [...]. Tem a ver com a nossa segurança, que pode estar em risco se a Rússia tiver êxito na Ucrânia", acrescentou, em declaração conjunta após se reunir com Lula no Palácio do Planalto.

O premiê afirmou que a Holanda apoiará a Ucrânia pelo tempo que for necessário e defendeu o envio de armas ao país invadido, algo rechaçado pelo brasileiro, que busca formar um clube de países neutros que possam atuar como mediadores do conflito.

"Expliquei a Lula que também fornecemos armas à Ucrânia porque, caso contrário, o país teria caído nas primeiras semanas desta guerra", disse Rutte.

O primeiro-ministro elogiou o Brasil por tentar "encontrar soluções e unir esforços em direção da paz", algo que, segundo ele, a União Europeia (UE) também está fazendo. Mas ressaltou que essas conversas devem partir das autoridades ucranianas. 

"A ajuda do Brasil é importante para achar soluções, mas isso tem que começar pela presidência ucraniana. É importante que todos nos envolvamos com isso, precisamos nos ajudar uns aos outros", afirmou.

Lula: "É hora da diplomacia"

Lula, por sua vez, voltou a defender a necessidade de primeiro parar a guerra para depois sentar para conversar, e colocou o Brasil como um possível intermediário para isso.

"Eu penso que cada país tem a sua razão. A Ucrânia efetivamente não pode aceitar a ocupação do território, ela tem de resistir. A União Europeia tem a sua razão de ter tomado a decisão que tomou [de apoiar a Ucrânia], e o Brasil e outros países têm a sua razão de tentar encontrar um meio-termo", afirmou.

"É hora da diplomacia, não é hora de guerra. Todo mundo sabe que o Brasil condenou a invasão territorial da Ucrânia, mas a continuidade só vai levar à morte. Foi essa a razão das conversas com a China, com o primeiro-ministro da Inglaterra, [da conversa de] hoje, e também vai ser razão da conversa com a Índia, com outros países", declarou.

O presidente brasileiro gerou controvérsia com declarações sobre a guerra na Ucrânia. Recentemente causou atrito com os Estados Unidos e a União Europeia ao afirmar que essas potências contribuem para prolongar o conflito em solo ucraniano. Bruxelas e a Casa Branca rebateram a declaração do brasileiro.

Após as críticas, Lula se manifestou condenando a violação do território ucraniano. Em visitas a  Portugal e Espanha, afirmou que nunca igualou a Ucrânia à Rússia no contexto do conflito e que não cabe a ele decidir de quem é a Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014.

Celso Amorim na Ucrânia

Na declaração conjunta ao lado de Rutte, Lula também falou sobre a visita de seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Ucrânia nesta quarta-feira, onde vai se reunir com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

"Espero que o Celso me traga não a solução, mas que ele me traga indícios de soluções para que a gente possa começar a conversar sobre paz", afirmou o presidente.

"Ele já sabe o que o [presidente da Rússia, Vladimir] Putin quer. Ele agora vai saber o que quer o Zelenski", disse Lula, referindo-se ao fato de Amorim ter visitado a Rússia no início de abril, quando se encontrou com Putin.

Após o regresso de Amorim, frisou o presidente, o Brasil terá "elementos para conversar com outros países e construir, quem sabe, a possibilidade de pararmos essa guerra".

Convergência sobre meio ambiente

Rutte está em visita oficial ao Brasil, acompanhado por uma comitiva de empresários. Além de Brasília, a viagem de três dias inclui paradas em São Paulo e Fortaleza. Após a reunião bilateral, Lula ofereceu um jantar para a delegação holandesa no Palácio do Itamaraty.

Se por um lado o líder holandês expressou suas diferenças quanto à guerra na Ucrânia, manifestou convergência na defesa da Amazônia e em trabalhar rumo a uma economia verde.

Lula exaltou a parceria entre Brasil e Holanda, não apenas no campo comercial, mas também quanto a valores compartilhados. "Temos uma coisa em comum: amamos a democracia. Outra coisa em comum: queremos a preservação do clima, a preservação das nossas florestas e queremos fazer uma revolução energética", disse.

Rutte reconheceu que o Brasil é um líder em questões climáticas e saudou o fato de o país estar "de volta e ativo" no cenário internacional, após o mandato de quatro anos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele também elogiou os esforços de Lula para acabar com o desmatamento na Amazônia, que continua em níveis elevados, e lembrou que a Holanda já atua na região com projetos para garantir "cadeias de valor sustentáveis", especialmente na agricultura.

"Temos que preservar a Amazônia em nome da sobrevivência da espécie humana e vamos acabar com o desmatamento até 2030", reafirmou Lula.

Segundo Rutte, ambos conversaram sobre expandir ainda mais a relação bilateral, especialmente em questões como a transição energética, já que ambos os países têm esse conhecimento.

"A Holanda é um país muito importante na discussão sobre transição energética, e o Brasil pode se tornar um símbolo global e oferecer ao mundo a experiência mais bem-sucedida de uma matriz energética totalmente limpa", disse Lula, afirmando que o Brasil pretende se envolver na produção de hidrogênio verde.

lf/as (Efe, Lusa, Reuters, ots)