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Caminhada marca 25 anos da morte do cacique Xicão em PE: "A cada Xukuru que nasce, ele renasce"

Descida do povo Xucuru da Serra do Ororubá até o centro de Pesqueira é o ato de encerramento da 23ª Assembleia Xukuru

Brasil de Fato | Pesqueira (PE) | |

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Cacique Marcos Xukuru a frente da caminhada por Pesqueira (PE), que relembra os 25 anos do assassinato de seu pai, Xicão Xukuru, em 20 de maio de 1998 - Pedro Stropasolas

O povo Xukuru desceu a Serra de Ororubá em direção ao centro de Pesqueira (PE),  no agreste pernambucano, neste sábado (20), na tradicional caminhada em memória aos 25 anos do assassinato do cacique Xicão Xukuru. 

A caminhada marcou o fim da 23ª Assembleia Xukuru do Ororubá, que reuniu o povo Xukuru das 24 comunidades localizadas na Serra do Ororubá na Aldeia Pedra d'água, entre os dias 17 e 20 de maio.

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Liderado pelo cacique Marcos Xukuru, filho de Xicão, os indígenas saíram do território indígena até o local onde o cacique foi assassinado, passando pelo centro de Pesqueira, e encerrando com um ato público no bairro Xukurus, onde habitam aproximadamente 200 famílias indígenas da etnia.

“Descer o território fazendo essa caminhada é seguir os ensinamentos dele, ou seja, a gente precisa estar em movimento sempre. Essa caminhada representa isso. Continuarmos avançando rumo a todos os nossos sonhos e aquilo que a ancestralidade nos traz como força pra gente poder garantir esse projeto de vida da nação Xukuru”, pontua o cacique Marcos ao Brasil de Fato, que acompanhou a mobilização.

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Xicão foi assassinado em 20 de maio de 1998. O crime, que repercutiu nacional e internacionalmente, foi uma tentativa de latifundiários de silenciar o levante do povo Xukuru pela demarcação de suas terras.

O cacique assassinado era referência no trabalho de reorganização política do povo Xukuru do Ororubá e liderou, a partir da promulgação da constituição de 1988, a retomada das terras invadidas por 181 fazendas dentro do território. 

Fruto de sua luta, o território teve a demarcação homologada em 30 de abril de 2001, e hoje é formado por 24 aldeias e cerca de 12 mil indígenas.

“Os nossos inimigos achando que matando Xicão iria a luta se encerrar. Muito pelo contrário, porque Xicão vive em cada um do Xukuru, e vive naqueles que estão chegando inclusive, ou seja, ele renasce a cada momento, a cada Xukuru que nasce, ele nasce junto”, analisa Marcos.

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O professor Tarcísio Xucuru é o “bacurau” do povo Xukuru durante o toré, um dos rituais sagrados da etnia. Ao som do flauteiro, é ele quem guia a todos durante a prática ancestral. Ele explica a importância do Mandaru entre os parentes.

“Ele é peça fundamental e será sempre um exemplo de luta. Então ele é o cara que nos deu um norte para nossa existência de tanta opressão, cercado por latifundiários, e ele conseguiu resistir e nos dar um norte para seguir na luta através da reconquista do território, fortalecimento cultural, a importância de manter as nossas tradições, porque ele já pensava tudo isso que a gente está comungando hoje“, pontua Tarcísio Xucuru.

“Ele é o alicerce do povo xukuru. Chicão doou a vida, deu a sua vida para que nós pudéssemos existir e resistir nesse momento”, conclui.

 

Edição: Vivian Virissimo