VIOLÊNCIA POLICIAL

Em Foz do Iguaçu, Silvio Almeida cobra resposta para caso de jovem assassinado pela PM

Ministro dos Direitos Humanos defende que investigações corram "ao rigor da lei"; inquérito foi prorrogado por 30 dias

Foz do Iguaçu (PR) |
"Este caso precisa ser esclarecido. É uma obrigação do Estado Brasileiro fazê-lo", defendeu o ministro - Foto: Assessoria UDC

Em passagem por Foz do Iguaçu (PR) nesta segunda-feira (29), o ministro de Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou as autoridades do Paraná para que garantam "o devido rigor da lei" sobre a investigação do assassinato do jovem Ismael Moray Flores. Ele foi assassinado na noite de 27 de abril, após cruzar com uma abordagem da Polícia Militar.

"É preciso que as investigações ocorram com a regularidade que prevê a lei. Registro minha solidariedade para com a família. Este caso precisa ser esclarecido. É uma obrigação do Estado Brasileiro fazê-lo", defendeu o ministro momentos antes de participar como palestrante de um congresso acadêmico realizado no município.

Ao ser informado de que a principal testemunha do caso teria mudado sua versão em depoimento, Silvio Almeida reforçou a iniciativa do Governo Federal de implantar a política de câmeras corporais em todo o Brasil.

"Quanto às câmeras corporais, este é um projeto que conta com apoio do Governo Federal. Tenho tratado sobre isso com o ministro da Justiça, Flávio Dino, assim como com os chefes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. Há uma convergência para que as câmeras corporais sejam uma política adotada em todo nosso país", completou o ministro.

Conforme publicado pelo Brasil de Fato no último sábado (27), mensagem de áudio indica que a vítima teria implorado por sua vida instantes antes de ser executada. Ao ser ouvida em depoimento na Delegacia de Homicídios que apura o caso, a testemunha mudou sua versão e não comprometeu nenhum dos policiais envolvidos na operação.

Para Silvio Almeida, o uso das câmeras corporais beneficia não apenas as eventuais vítimas da violência policial, mas também os próprios policiais. "E temos números que comprovam isto. Em São Paulo, a letalidade caiu significativamente, e caiu também a letalidade entre os policiais. O que demonstra que é uma política de direitos humanos eficaz e apoiada pelo governo", detalhou Almeida.

Ainda em entrevista, o ministro afirmou que seria papel do município de Foz do Iguaçu e do Governo do Paraná prestar contas à sociedade sobre o ocorrido. "A prefeitura de Foz do Iguaçu não tem o papel de prover a segurança pública, entendo que seria o caso de tentar entender o que aconteceu, prover todo o auxílio que a família eventualmente precise e ajudar no que lhe compete. Já ao governo do Paraná, é fundamental a elucidação do crime e a responsabilização dos seus autores, conforme determina a lei brasileira", frisou.

Inquérito prorrogado

Após trinta dias de investigações sobre a execução de Ismael Flores, a Delegacia de Homicídios decidiu prorrogar o inquérito por mais trinta dias. A informação foi confirmada pela advogada Katiane Camacho, na tarde desta terça-feira (30).

"No momento, o inquérito está em trâmite e foi prorrogado, como já era esperado. Dentre os elementos importantes, falta a oitiva dos policiais que efetuaram os disparos contra o Ismael. A expectativa é que isso ocorra ainda na próxima semana. Outro ponto que aguardamos é a devolução do inquérito com a oitiva destes policiais para analisarmos se será cabível alguma nova diligência", pontua uma das advogadas que assistem a família da vítima.

Segundo Katiane, a expectativa é de que a prorrogação não seja renovada. "Nosso desejo é que os pontos controversos neste inquérito sejam sanados para que os autores sejam indiciados, condenados e afastados de suas funções dentro da Polícia Militar. Vale lembrar que estes policiais envolvidos estão soltos e exercendo funções administrativas dentro da PM", informou a advogada.

Procurada, a Polícia Militar do Paraná confirmou que sete policiais envolvidos na operação cumprem funções administrativas e estão afastados das ruas. A reportagem não conseguiu retorno junto a Delegacia de Homicídios.

Já a Prefeitura de Foz do Iguaçu, que conta com uma Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade, afirma que "aguarda a conclusão das investigações para que os culpados sejam punidos com o rigor da lei". Por meio de sua assessoria de comunicação, o município informou que ''a secretaria não atua em processos judiciais e inquéritos policiais, mas se coloca à disposição para auxiliar a família no que for possível".

Mãe de Ismael Flores, Clair Flores clama por justiça em respeito à memória do filho e para que tragédias como essa não ocorram mais. "A polícia precisa entender que ela não é juiz. Meu filho não tinha nada a ver com a situação e foi assassinado. Mesmo alguém que faça algo errado, que não foi o caso do Ismael, ninguém pode ser assassinado por vontade de um policial. Eu repito que está perdoado em nome de Deus, mas a justiça dos homens precisa ser feita. Isso precisa acabar", afirma a mãe.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini