ECOLOGIA INTEGRAL

Romaria denuncia ataques a povos tradicionais de Santa Luzia (MG) e ao patrimônio ambiental

A quarta edição do evento aconteceu no dia 3 de junho e criticou impactos do Rodoanel, megaprojeto de Zema

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O projeto de Zema afeta diretamente a represa de Vargem das Flores - Foto: Divulgação/ Igam
Não é só o meio ambiente, mas é a preservação também do ser humano e de todas as formas de vida

O debate sobre a construção do Rodoanel e seus impactos nas matas e das reservas hídricas de Minas Gerais esteve em pauta na quarta “Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela ecologia integral” neste mês de junho, em Santa Luzia, na Região Metropolitana da capital mineira.

Iniciativa do governador Romeu Zema (Novo), o megaprojeto é criticado por diversos setores da população de Minas Gerais. Além de afetar 13 municípios, R$ 3,07 bilhões que serão aplicados pelo governo estadual são provenientes do acordo com a Vale para a reparação do crime social e ambiental, que aconteceu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, com o rompimento da barragem.

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Ecologia integral

O conceito de ecologia integral surgiu em 2015 a partir da carta encíclica Laudato Si, proposta feita pelo Papa Francisco. No documento, o pontífice chama a atenção para o cuidado da Casa Comum.

“Não é só o meio ambiente, mas é a preservação também do ser humano e de todas as formas de vida que estão presentes nesse meio ambiente, algo que está integrado à vida de todos nós e ao qual nós estamos relacionados”, explica Padre Júlio Amaral, um dos organizadores do evento e vigário episcopal da Arquidiocese de Belo Horizonte.

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Alternativas ao Rodoanel

Na avaliação de movimentos populares, o governador Zema está usando o recurso do acordo, que deveria ser destinado aos atingidos, para cometer um novo crime ambiental. Por exemplo, o projeto afeta diretamente a represa de Vargem das Flores, um dos principais mananciais da região metropolitana, o que compromete totalmente o abastecimento da cidade de Ibirité, com mais de 180 mil habitantes.

De acordo com Cristina Maria de Oliveira, do Movimento SOS Vargem das Flores, há alternativas mais sustentáveis e respeitosas ao meio ambiente e à sociedade do que o Rodoanel. “O atual Anel Rodoviário deveria ser revitalizado para atender ao fluxo dos caminhões que passam por Minas Gerais. Poderíamos também duplicar o Rodoanel de forma aérea, como a gente vê em Salvador, por exemplo, com o metrô” explica.

Território histórico e ancestral

A quarta romaria pela ecologia integral encerra a sua jornada na capela Nossa Senhora do Rosário, no Quilombo de Pinhões. O território sagrado também está no traçado do rodoanel. Ao todo, especialistas estimam que cerca de 80 comunidades tradicionais serão diretamente ou indiretamente afetadas pelo projeto. Por isso, a romaria também chama a atenção para a importância do respeito e preservação de territórios e povos tradicionais.

“O Quilombo dos Pinhões é um território antiquíssimo, que, por milhões de anos, foi ocupado por povos originários. Faz fronteira com Lagoa Santa, que é um dos primeiros vetores de povoamento do continente, onde há registros de um dos primeiros seres humanos que ocupou a América do Sul, a Luzia”, pontua o pesquisador Glaucon Durães.

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Além do Rodoanel, o município também está na mira de outros empreendimentos, como o plano diretor do município. Durães denuncia que há pouca empatia dos executivos municipal e estadual na defesa da região. “É um território que tem vínculo direto com esse processo de escravização, de colonização, mas também com a cultura afro-brasileira", completa o morador de Santa Luzia.

Outro lado

O Brasil de Fato Minas Gerais entrou em contato com o governo do estado para questionar os pontos apresentados na reportagem, mas não houve retorno. 

Edição: Larissa Costa e Daniel Lamir