Semeando pelos ares

Do pinus à palmeira juçara: MST semeia toneladas de sementes de árvore em risco de extinção

Espécie originária da Mata Atlântica foi lançada de helicóptero em área que já foi degradada pelo monocultivo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Sementes são transportadas para local de semeadura por membros do MST - © Juliana Barbosa

Quatro toneladas de sementes de palmeira juçara foram semeadas na reserva legal da comunidade de reforma agrária Dom Tomás Balduíno, região centro-sul do Paraná. A espécie é conhecida como açaí da Mata Atlântica e está sob risco de extinção.

A ação foi organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com sementes originárias de uma agrofloresta, levantada por uma das famílias agricultoras que vivem no local. Para a semeadura foi utilizado um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.

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Também participaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/PR), a Itaipu, Agroecology Fund (AEF), o Laboratório Vivam de sistemas agroflorestais da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/LS), a Prefeitura e Câmara de Quedas do Iguaçu, e o Instituto Água e Terra (IAT/PR).


Objetivo da semeadura é recompor a área degradada durante anos pelo cultivo de pinus e eucalipto / Juliana Barbosa

As sementes foram despejadas em uma área de 67 hectares, nas encostas do Rio Iguaçu e da represa da Usina de Salto Osório. Mais de 2,5 mil famílias agricultoras vivem atualmente na região. A espécie ajuda a resguardar da fertilidade do solo, protege encostas e auxilia a regulação do fluxo dos mananciais.

O objetivo da semeadura é recompor a área degradada durante anos pelo cultivo de pinus e eucalipto por parte da empresa exportadora Araupel. Em 2015, sem terra ocuparam o território de mais de 8,5 mil hectares. Na época, mais de 90% da terra era destinada ao monocultivo, o que empobreceu o solo e exige um processo de recuperação consistente até hoje.

De lá para cá, a agricultura familiar promoveu uma mudança profunda no local. Além da estrutura comunitária, com escolas, galpões para atividades culturais e de formação e áreas para esporte e lazer, há plantações diversificadas.

Ao longo da pandemia, a comunidade participou ativamente dos processos de doação de alimentos para pessoas em vulnerabilidade realizados pelo MST. No ano de 2021, camponeses e camponesas que moram no local chegaram a doar mais de 2 mil cestas básicas e quase 50 toneladas de alimentos em uma única atividade.

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O plantio da palmeira juçara também reforça a atividade econômica ligada ao fruto da árvore, que gera renda para as famílias da região. A atividade substitui totalmente a extração da espécie para comercialização do palmito e mantém a floresta em pé.

Foi das sobras de sementes dessa atividade que surgiu a ideia de semear a Juçara pelos ares. A atividade faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, lançado pelo MST em 2020.

O movimento pretende plantar 100 milhões de árvores em dez anos nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação técnica, praças, avenidas e cidades e fortalecer a produção de alimentos saudáveis nos assentamentos e acampamentos. 

Edição: Thalita Pires