Sucessão

México: candidato do governo à presidência será definido em consulta popular

Faltando um ano para as eleições, principais concorrentes já renunciaram a seus cargos, a fim de evitar rachas

São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

O atual presidente do México, conhecido pelas iniciais AMLO, deixará o cargo já que o país não tem reeleição - Rodrigo Arangua / AFP

A candidatura à presidência do partido governista do México, Movimento de Regeneração Nacional (Morena), será definida por meio de uma consulta popular a nível nacional, com várias perguntas que servirão para medir a percepção da população sobre os atributos dos candidatos. O processo será aberto a toda a população e os resultados definitivos serão divulgados no dia 6 de setembro — as eleições estão marcadas para 2 de junho de 2024.

A decisão foi tomada no último domingo (11), durante congresso do conselho nacional do Morena. O principal articulador dessa proposta foi o presidente Andrés Manuel López Obrador, que busca com isso construir uma unidade no bloco governista, evitando fissuras. A semana que antecedeu a reunião do partido foi decisiva para a batalha interna pelo posto de candidato à sucessão, tanto que ele afirmou, repetidas vezes, que não tem preferência entre os candidatos.

No dia 5 de junho, o presidente reuniu os quatro principais aspirantes (Claudia Sheinbaum, chefe de governo da Cidade do México, Marcelo Ebrard, secretário nacional de Relações Exteriores, Adán Augusto López, secretário nacional do Interior, e Ricardo Monreal, senador) e impôs a condição de que era preciso renunciar para participar da disputa interna, de modo que todos partam em igualdade de condições.

No dia seguinte, Ebrard renunciou ao cargo de secretário de Relações Exteriores do governo Obrador, sendo o primeiro dos candidatos a tomar essa atitude. No dia seguinte, o presidente declarou que a corrida eleitoral já havia começado e que esperava que os demais concorrentes também deixassem seus cargos públicos.

Na última segunda (12), um dia após o congresso do partido, foi a vez da chefe de governo da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, renunciar. Pelo Twitter, ela justificou a decisão dizendo que pretende ser a primeira mulher da história do México a "encabeçar os destinos da Nação". "Tomo essa decisão porque considero que sou a única pessoa na disputa que provém de uma carreira científica e, ao mesmo tempo, participou da luta pelos direitos dos mexicanos, democracia, liberdades, justiça social e ambiental, desde que tinha apenas 15 anos".

Formada em Física pela Unam, a principal universidade do México, Sheinbaum é mestra e doutora em Engenharia de Energia. Participou do movimento estudantil, como seus pais também haviam feito. Seu primeiro cargo na administração pública foi com Obrador, como secretária de Meio Ambiente da Cidade do México, cargo que deixou em 2006 para ser porta-voz da campanha presidencial de seu padrinho político. Entre outras realizações, coordenou também o tema de governo e política para o plano de governo do atual mandato de Obrador (2018-2024).

Durante o processo de definição das regras, a principal rivalidade tem sido entre Sheinbaum e Ebrard, que têm visões divergentes sobre como o processo deve ser conduzido. Ebrard é um quadro fortemente ligado ao partido, enquanto Sheinbaum tem a preferência do atual presidente. Quando anunciou sua renúncia, ela postou que pretendia dar continuidade à "grande obra de transformação" de López Obrador, porém com "selo próprio".

Ebrard é um candidato que vem esperando sua vez desde 2011, quando, após angariar alta popularidade governando a Cidade do México, tentou ser candidato à presidência mas acabou derrotado nas prévias por Obrador, que acabou perdendo a eleição — nos anos seguintes, durante o governo de Enrique Peña Nieto, Ebrard sofreu perseguição política e se exilou. Em 2017, coordenou a campanha presidencial de Obrador nos estados do norte mexicano. Quando enfim Obrador chegou ao poder, ele passou a comandar as Relações Exteriores, cargo no qual enfrentou diversos crises diplomáticas, sendo a mais grave delas em 2019, quando o então presidente Donald Trump ameaçou retaliar produtos mexicanos se o governo não tomasse medidas drásticas para deter o fluxo migratório em direção aos EUA.

A consulta popular para decidir o candidato governista será realizada de 28 de agosto a 3 de setembro, por meio de quatro institutos de pesquisa que replicarão um questionário em diversos pontos do país, simultaneamente. Morena vetou os institutos que erraram por margem extensa de votos em pesquisas recentes.

Além dos quatro candidatos citados, participarão da disputa o deputado Gerardo Fernández Noroña, do Partido do Trabalho, e o senador Manuel Velasco, do Partido Verde, aliados de Morena. Eles ficam proibidos de conceder entrevistas a meios de comunicação considerados reacionários, conservadores e adversários do governo — os nomes ainda serão definidos. Eles também não podem se confrontar nem desqualificar uns aos outros. E são obrigados a respeitar o resultado da consulta popular. O segundo e terceiro colocados terão garantidas a coordenação do partido no Congresso ou um posto no gabinete do próximo presidente.

* Com informações do El País.

Edição: Thales Schmidt