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Conflito entre Luis Arce e Evo Morales gera crise política na Bolívia

Ex-mandatário acusa o atual presidente de querer dividir o partido governista MAS

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Na esquerda, o presidente Luis Arce em evento na cidade de Ivirgarzama com o ex-mandatário Evo Morales - Aizar Raldes / AFP

A crise interna do partido govenista boliviano Movimento ao Socialismo (MAS) ganhou um novo capítulo neste domingo (18/06) após as declarações do ex-presidente Evo Morales dizendo que o atual governo do país está “empenhado em nos dividir". Para ele, essa atitude remete aos "governos neoliberais com seus inimigos, através de campanhas sujas e de desprestígio”.

As palavras de Morales foram ditas durante seu programa dominical na rádio Kausachun Coca, de Cochabamba. Durante a transmissão, ele também fez críticas diretas ao atual mandatário boliviano, Luis Arce, a quem acusou de entregar “mordomias para líderes de grupos renovadores”, o que, segundo o ex-presidente, seria uma forma de tentar se aproximar de setores próximos à direita boliviana.

“Vocês sabem quem são os chefes da ala que querem se aproximar daqueles que defendem a ‘renovação da política’: Lucho [Arce] e David [Choquehuanca, vice-presidente], que ora tentam banir o MAS da política, ora aparecem dizendo ‘nós somos do MAS’, querendo que nós acreditemos neles”, recriminou Morales.

O líder indígena também pediu aos seus partidários que “tenham cuidado, pois o governo tentará me atacar, provavelmente com uma falsa acusação e uma operação judicial”.

As afirmações do ex-mandatário são os últimos movimentos da bola de neve na que se transformou a série de acusações cruzadas entre Arce e Morales, que iniciaram a crise política dentro do partido governista boliviano.

No sábado (17/06), o presidente Arce encabeçou uma reunião ministerial, após a ministra porta-voz da Presidência, María Nela Prada, afirmar que governo ratifica o "compromisso com o programa de governo do MAS eleito em 2020”, e também fez críticas “a setores que querem a divisão do partido, que nos tratam injustamente como traidores”.

“Lamentamos profundamente essas críticas, pois jamais deixamos de seguir o projeto político que venceu nas urnas, e esperamos que os que nos acusam se lembrem de que nós não somos o verdadeiro inimigo, e sim a direita fascista”, acrescentou Prada.

Dias antes, o vice-presidente do MAS, Gerardo García, havia afirmado, em entrevista para o diário boliviano Página Siete, que o partido estaria "arrependido" do apoio a Arce nas últimas eleições, declarando que será discutido isso na próxima reunião da sigla.

A reunião à qual García se referiu deve acontecer na próxima quinta-feira (22/06) e, segundo a imprensa local, poderia resultar na expulsão de Arce e de Choquehuanca do MAS.

Vale lembrar que Arce e Choquehuanca eram aliados considerados entre os mais leais a Morales durante seu mandato como presidente da Bolívia, entre 2006 e 2019. O primeiro foi o ministro da Economia durante quase todo o seu período no Palácio Quemado. O segundo foi chanceler boliviano, também durante mais de 10 anos.

A atual crise interna do governismo boliviano preocupa uma terceira figura que acompanhou todos os mandatos de Morales: o sociólogo e cientista político Álvaro García Linera, que foi vice-presidente do país durante os governos do líder indígena.

Segundo a imprensa local, Linera considera a atual crise do MAS como “um problema que precisa ser solucionado o quanto antes”, e que seria uma “catástrofe eleitoral” para o partido se eles não forem resolvidos até 2025, ano das próximas eleições presidenciais na Bolívia.