Impacto

Após sucessivas 'quebradeiras', Rio é prejudicado pela taxa de juros alta

Selic atingindo o patamar de 13,75% não permite que estado retome atividades econômicas, avaliam economistas

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
As tentativas de alavancar a economia estadual via geração de renda e emprego a partir da produção de bens esbarram na taxa básica de juros - Tânia Rego/ Agência Brasil

As consequências com a perda da capital federal, a instabilidade política e os juros altos da dívida do Rio de Janeiro com a União no Regime de Recuperação Fiscal são algumas das razões que se somam à alta taxa básica de juros, a Selic, para que a crise do estado se aprofunde sem perspectiva de melhora no curto e médio prazo. 

A manutenção da Selic pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem sido alvo de críticas tanto por parte do governo federal quanto de economistas que vêm avisando que juros altos afastam os investimentos, o que acarreta em desemprego, por exemplo. Para o Rio de Janeiro, a situação é ainda mais delicada. 

O estado perdeu 40% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o crescimento econômico é aquém do Brasil e há anos tem déficit de emprego. A última atualização do IBGE, do primeiro trimestre de 2023, mostra o estado com taxa de desocupação de 11,6% contra 8,8%, que é a média nacional. 

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Para o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mauro Osório, que é especialista em desenvolvimento da economia fluminense, as tentativas de alavancar a economia estadual via geração de renda e emprego a partir da produção de bens esbarram na taxa básica de juros. 

"Com tantos hospitais federais no Rio, a indústria farmoquímica, de insumos farmacêuticos, geraria muitos empregos no estado. A gente importa 95% desses produtos. Mas como o empresário vai investir em fábrica se ele ganha a mesma coisa investindo em nada, apenas aplicando no mercado financeiro?", questiona Osório. 

Ele explica que a alta dos juros com a justificativa de baixar a inflação não faz sentido, já que há tendência de queda da inflação nos próximos meses. O economista afirma que nenhum empresário se sente seguro quando a intenção do Banco Central é frear a demanda e o consumo. 

Momento de retomada 

Economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mauro Oddo Nogueira enumerou alguns dos problemas citados por Mauro Osório e mencionou a pandemia da covid-19 como um momento agudo de desaceleração da economia fluminense. 

"Passada a pandemia, precisamos entrar em um processo de recuperação econômica, que pressupõe investimento e capital. Aí, a gente esbarra na questão da taxa básica de juros do país, que é a segunda mais alta do mundo. É inviável uma empresa retomar as atividades, é inviável abrir novos empreendimentos, é inviável expandir", diz ele. 

O economista afirma que sua opinião não representa a do Ipea, mas afirma que a "quebradeira" provocada pelas sucessivas ondas da pandemia ainda está sendo dimensionada pelo órgão. E que juros altos não vão possibilitar que o estado saia da informalidade e gere empregos.  

Política monetária com "P" maiúsculo 

Para Mauro Osório, da UFRJ, o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do BC que define a taxa de juros, precisa se atentar para o fato de que as decisões devem levar em conta as políticas fiscais e a macroeconomia do país.

"Existe uma visão de política monetária como questão técnica, mas ela se chama política. É preciso, sim, um BC com equipe, estrutura técnica, com diretores capacitados e nomeados em articulação com o presidente eleito, não é uma questão técnica", afirma Osório, acrescentando que "o Banco Central não é a Santa Sé, não tem verdade absoluta. Se fosse só uma questão técnica, não se chamava política", critica o economista. 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse