Intriga no Kremlin

Grupo paramilitar russo que participa da guerra contra Ucrânia acusa Moscou de fogo amigo

Acusação de Yevgeny Prigozhin eleva o nível da intriga no comando militar russo; Rússia fala em 'provocação'

Rio de Janeiro |
Chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, segura uma bandeira russa na frente de seus soldados em Bakhmut, em 20 de maio de 2023 - Telegram / Concord Group / AFP

O chefe do batalhão paramilitar russo "Wagner", Yevgeny Prigozhin, acusou os militares russos de realizar um ataque de mísseis contra o acampamento do grupo de mercenários. O grupo Wagner é responsável por liderar as tropas russas em importantes pontos da linha de frente na guerra da Ucrânia.  

"Um ataque com mísseis foi realizado nos acampamentos do grupo Wagner. Muitas vítimas. Segundo testemunhas oculares, o golpe foi desferido pela retaguarda, ou seja, foi desferido pelos militares do Ministério da Defesa da Rússia", disse Prigozhin.

Segundo o empresário e fundador do batalhão, "um grande número de combatentes morreu" e em um futuro próximo o Wagner decidirá "como responder a esta atrocidade".

"Fomos vilmente enganados e tentamos nos privar da oportunidade de defender nossas casas. Estávamos prontos para fazer concessões ao Ministério da Defesa, para entregar nossas armas, para encontrar uma solução sobre como continuaríamos a defender o país. Mas essa escória não se acalmou. Hoje, vendo que não estamos quebrados, eles lançaram ataques com mísseís em nossos acampamentos de retaguarda", disse Prigozhin.

As declarações foram divulgadas através do canal oficial do serviço de imprensa de Yevgueny Prigozhin através de uma mensagem de áudio. 

O Ministério da Defesa da Rússia se pronunciou logo após a disseminação dessas mensagens negando ataques aos campos do grupo Wagner. 

De acordo com a pasta, "todas as mensagens e vídeos divulgados nas redes sociais de Prigozhin sobre o ataque do Ministério da Defesa da Rússia nos campos de retaguarda do Wagner não correspondem à realidade e são uma provocação informativa". 

O Ministério da Defesa acrescentou que as tropas russas continuam realizando missões de combate na linha de contato com o exército ucraniano.

Prigozhin já havia aumentado o tom contra o Ministério da Defesa na manhã desta sexta-feira (23) quando publicou um vídeo acusando o departamento militar russo de "enganar o presidente". Ele afirmou que os militares russos na Ucrânia "se lavam com sangue" e que as Forças Armadas da Ucrânia estão avançando com sucesso. Prigozhin ainda disse que não há "controle" no exército russo.

A tensão entre o chefe do Wagner e o comando militar russo se arrasta há meses com acusações e ofensas abertas de Prigozhin ao ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, e o comandante das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov. Os ataques começaram com a reivindicação de que o ministério não estava enviando munições para o grupo Wagner, desgastando as tropas na linha de frente. Também especula-se que Prigozhin - que nunca destina seus ataques a Putin - esteja almejando posições de poder político no Kremlin. 

Nesta sexta-feira (23), Prigozhin elevou o nível das acusações e, na prática, disse que o ministro da Defesa ordenou ataques contra as próprias fileiras russas no campo de batalha. 

"O Ministro da Defesa chegou a Rostov (região russa perto da fronteira com a Ucrânia) com o propósito de realizar uma operação para destruir o grupo Wagner PMC. Ele usou artilharia e pilotos de helicóptero no escuro para nos destruir", disse Prigozhin.

Edição: Thales Schmidt