Tratado comercial

Antes de voltar para o Brasil, Lula defende avanço do acordo Mercosul-UE e critica exigências

Ao relatar encontro com Emmanuel Macron, o chefe do Planalto disse ser esta a principal pauta com o presidente francês

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Depois de passar pela Itália e a França e prestes a embarcar de volta ao Brasil neste sábado (24), Lula fala à imprensa - Ricardo Stuckert

Em entrevista coletiva em Paris pouco antes de embarcar de volta ao Brasil após sua viagem pela Europa, o presidente Lula (PT) ressaltou o desejo de destravar o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). A negociação se arrasta há mais de duas décadas. “A França tem um papel importante e nesse momento há um início de contrariedade em relação ao acordo”, afirmou o chefe do Planalto. 

“Conversamos com o presidente Macron, ele nos disse que a gente pode discutir, que não tem tema proibido para discutir”, relatou Lula, sobre a reunião bilateral que realizou com o chefe de Estado francês, acompanhado de uma delegação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o assessor especial da presidência, Celso Amorim. 

O acordo para criar uma área de livre comércio entre os dois blocos foi concluído em 2019, mas o texto ainda não foi ratificado nem pelos parlamentos europeus, nem pelos presidentes da UE. Apesar de não ser o único país ponderando o avanço do tratado, a França se tornou peça chave.

“Da mesma forma que ele [Macron] tem que resguardar os interesses agrícolas dele, nós temos que resguardar os interesses das nossas pequenas e médias empresas”, descreveu Lula. O parlamento francês alega que o texto, se aprovado nesta versão, trará impactos ambientais e de concorrência em relação aos produtos agrícolas brasileiros. Os franceses também questionam o uso de agrotóxicos no Brasil que são proibidos na Europa e a discrepância entre direitos trabalhistas dos dois blocos.  

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Impulsionado pela explosão do desmatamento na Amazônia que marcou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Parlamento Europeu adicionou uma carta ao compromisso firmado em 2019, impondo novas exigências ligadas à preservação do meio ambiente e penalidades aos países que não cumprirem metas climáticas firmadas no Acordo de Paris, de 2015.

Nesta sexta-feira (23), o presidente petista afirmou que “os acordos comerciais têm de ser mais justos” e criticou o adendo de exigências feito pelos europeus. “Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo”, expôs Lula. “Não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro estratégico. Como a gente vai resolver isso?”, questionou. 

Já no sábado, Lula informou que a resposta dos países do Mercosul à carta adicional da União Europeia deve ser feita até o final de 2023. “Espero que tenhamos capacidade e sabedoria de fazer avançar esse assunto porque é importante para a União Europeia, é importante para o Mercosul e é importante para o encontro que vai ter agora em julho”, anunciou. O presidente brasileiro se referia à cúpula entre a UE e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, marcado para o próximo 17 de julho, na Bélgica.  

"É muito engraçado esse mundo, porque dos anos 1980 para cá as pessoas falavam que quanto mais abertura melhor, quanto mais livre comércio melhor. Agora, quando chega a vez dos países em desenvolvimento competir em igualdade de condições, os mais ricos viram protecionistas", criticou Lula. 

"Eu acho normal que a França tente defender a sua agricultura. Pode ser um ponto de mais dificuldade, de inflexão. Mas é normal que eles entendam que o Brasil não pode abrir mão das compras governamentais. O fato de ter esses dois pontos que são nervosos e considerados essenciais dos dois lados, ora, a gente pode não fazer acordo com esses, mas vamos melhorar outras coisas", defendeu o petista.  

Defendendo o “bom senso” no lugar da “arrogância”, Lula ressaltou: "A União Europeia não pode ficar sendo a fatia de mortadela entre a nova guerra fria, entre Estados Unidos e China. É importante lembrar: nós precisamos da União Europeia e a União Europeia precisa muito de nós".  

Edição: Raquel Setz