Bem Viver

É Comida de Verdade? Entenda as propostas e desafios no acesso e como ler as embalagens

Os desafios históricos para a questão aparecem de análises sociais a ingredientes de ultraprocessados

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A Reforma Agrária Popular defende a Comida de Verdade em suas práticas, saberes e propostas para o Brasil - MST
Procuramos explorar recortes que estão relacionados à base da desigualdade social no nosso país

Décadas se passaram e os postulados de Josué de Castro permanecem ecoando ainda hoje quando o assunto é a questão alimentar no Brasil.   

No mundo, metade da humanidade tem fome e a outra metade tem medo dos que têm fome

A Geografia da Fome pode ter mudado diante de novos contextos, mas, apesar dos dados atualizados, a fome continua como um dos maiores desafios da sociedade diante das desigualdades econômicas e sociais. Além disso, com as estratégias de lucro das grandes empresas do setor agroindustrial, o acesso a alimentos saudáveis, considerados comida de verdade, também ampliam o leque de debates na temática. 

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Os dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN) são alarmantes e mostram que o racismo estrutural ainda é uma triste realidade em nosso país. O índice de famílias chefiadas por pessoas negras que sofrem com a fome é de 20,6%, enquanto entre as famílias chefiadas por pessoas brancas é de apenas 10,6%. E as mulheres negras são as mais afetadas, com 22% dos lares em que elas estão à frente convivendo com a fome.

“Procuramos explorar recortes que estão relacionados à base da desigualdade social no nosso país. Exatamente para poder entender o que pode ser feito a partir dessas informações, como uma forma de reduzir a desigualdade especificamente para a população preta e para as mulheres. Estamos tratando do racismo e do sexismo estruturais do nosso país.”, afirma Rosana Sales Costa, pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) e professora do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista no programa de rádio Bem Viver desta terça-feira (27). 

A partir dos dados que apontam as desigualdades, a pesquisadora defende a garantia da segurança alimentar e nutricional com políticas públicas mais efetivas, e com um compromisso direto com a questão racial e de gênero. Para ela, o momento é de reabrir o diálogo para garantir a reestruturação de políticas sociais que garantam o acesso à comida de verdade.

“Ano passado nós perdemos muito tempo tendo que defender e provar os dados do nosso relatório. No cenário atual, colocamos o dia 28 de fevereiro como um grande marco, quando foi retomado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Agora, esperamos que com esse relatório, que será apresentado em momento oportuno ao governo, nossos pares possam olhar esse relatório, conversar, pensar e reestruturar algumas das políticas sociais que estejam estruturalmente relacionadas ao racismo ao sexismo, para tentarmos, de fato, reverter esse quadro.”, pontua.  

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Alimentos pela agroecologia

Outra proposta destacada no programa desta terça-feira (27) é o incentivo a sistemas de produção agroecológica e orgânica. Neste sentido, um projeto de lei apresentado em 2012 pelo deputado estadual Simão Pedro (PT) está prestes a ser votado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A expectativa é que a votação aconteça nos próximos dias.

Em conversa com reproduzida na edição, o deputado que propôs a iniciativa explicou que a tramitação avançou recentemente. Na última semana, por exemplo, foi aprovado o regime de urgência, que faz com que o projeto seja liberado de passar por comissões da Assembleia. Após ser aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação, o texto estava parado na Comissão de Agricultura.

"Nossa ideia é que a agroecologia, o monitoramento de agrotóxicos e o incentivo à produção orgânica para que ela chegue um pouco mais barata na mesa do consumidor sejam uma política de estado. Isso vai ser feito através de uma regulamentação. Qual a secretaria que vai assumir, a Secretaria de Agricultura? Vai ter dinheiro para isso no orçamento? Isso nós vamos brigar depois, na regulamentação da lei", contou.

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De olho nas embalagens

A balança pelo equilíbrio entre comida mais barata e de qualidade também entrou na pauta da edição do Bem Viver. No contexto das desigualdades sociais e econômicas, que apontam dados desafiadores nas questões de gênero e cor, a qualidade do que se come foi discutida no programa. Em reportagem reproduzida da Rádio USP, Ana Paula Bortoletto, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), alertou sobre a maior acessibilidade dos produtos ultraprocessados no Brasil.

Apesar de serem opções mais baratas, de fácil preparo e com substâncias para tornar o paladar mais atraente, esses produtos são obtidos a partir do excesso de açúcares, óleos e gorduras. Além disso, são utilizadas técnicas que levam o lucro acima da saúde da população. 

"Tudo isso é projetado para criar produtos altamente lucrativos para a indústria, com ingredientes de baixo custo e longa vida útil. São marcas com muita publicidade que podem substituir todo o conjunto de alimentos que compõem uma refeição saudável. A sua conveniência, com o fato de demorarem para estragar e estarem prontos para o consumo, além do marketing muito agressivo, confere aos alimentos  ultraprocessados enormes vantagens de mercado sobre todos os outros alimentos", alerta a pesquisadora.  

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Ao mesmo tempo da consideração de desigualdades no acesso, Ana Paula Bortoletto destaca a importância do conhecimento popular sobre a composição dos alimentos a partir das embalagens, mesmo diante dos empecilhos criados pelo setor industrial.  

"É uma informação obrigatória para os fabricantes e essencial para escolhas saudáveis. Porém, é uma informação frequentemente que fica escondida na parte de trás do produto, em letras pequenas", critica. 

Ela destaca que a lista contém todos os itens utilizados para preparo do produto, em ordem decrescente de quantidade. 

"Para identificar os ultraprocessados, você pode verificar se a lista possui substâncias de uso industrial, como açúcares, que podem estar na forma de frutose, xarope de milho, açúcar invertido, maltodextrina e dextrose, por exemplo, ou óleos modificados aparecem como óleos hidrogenados ou interesterificados, e ainda proteínas, que são listadas como isolados de proteína de soja, soro de leite, por exemplo, ou carne separada mecanicamente", explica.

A pesquisadora ainda afirma que uma única substância dessa na lista já caracteriza o produto como ultraprocessado. Para tanto, ela ainda lista os chamados aditivos cosméticos no grupo. 

"Os aditivos cosméticos são aqueles utilizados para intensificar a cor, o sabor e a textura, como aromatizantes, intensificadores de sabor, corantes, emulsificadores, adoçantes ou espessantes". 


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Edição: Daniel Lamir