LIBERDADE

Lula pode mobilizar Brics e G20 por 'solução humana' para Assange, diz pesquisador

Renato Cordeiro, idealizador da carta que pede asilo a jornalista no Brasil, acha que Lula vai se sensibilizar

Botucatu (SP) |
Toda guerra nos últimos 50 anos é resultado de mentiras da imprensa, diz cartaz em protesto em defesa de Assange em Londres - Susannah Ireland / AFP - 11/2/2023

O intelectual Renato Cordeiro, pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz, entre outras atribuições científicas, foi quem deu início ao movimento pela elaboração da carta que pede ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a concessão de asilo político ao jornalista e ativista Julian Assange, e que deve ser entregue no próximo dia 12. Sua motivação é defender a liberdade de expressão como forma de evitar a apatia dos cidadãos do mundo, especialmente em países governados por regimes autoritários. Ele está otimista.

“O que está em jogo é a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão e o futuro dos povos, nesse momento em que os regimes autoritários amordaçam a imprensa, mantendo a população apática e contida em todos os sentidos. O assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi bem reflete a dramática pressão que é exercida sobre os jornalistas que publicam verdades”, disse em entrevista ao Brasil de Fato, referindo-se ao caso do jornalista crítico ao regime saudita, assassinado após entrar no consulado do seu país em Istambul, em 2018.

“Sentimos bem essa situação nos trágicos 21 anos de ditadura militar no Brasil. Agora os estadunidenses e os ingleses se dão o direito de processar, julgar e prender Assange, um brilhante jornalista, fundador do Wikileaks, que teve a coragem de revelar para o mundo documentos que os Estados Unidos consideram confidenciais sobre a guerra no Afeganistão e Iraque, além de espionagem irregular em vários países”, opina Cordeiro.

Ele considera “lamentável” o que chama de “dramático silêncio da chamada grande mídia, que pouco aborda os fatos que cercam a prisão de Assange”. E conta que o movimento de elaboração da carta começou com conversas que manteve com o amigo Álvaro Nascimento, jornalista e também ligado à Fiocruz. “Nos entusiasmamos com a ideia e com a possibilidade de trazer Assange para o Brasil, evitando a sua extradição para os Estados Unidos”.

O pesquisador afirma ter “contatos com importantes membros do governo federal e do Congresso”. E confia que, pelas recentes declarações do presidente Lula em defesa de Assange, o presidente verá com bons olhos o movimento.

“Lula é um humanista, um democrata, e o que está em jogo não é apenas a liberdade de Assange, mas também a de imprensa. Consumada a extradição e a prisão definitiva de Assange, qualquer jornalista no mundo que obtenha informações verdadeiras e comprovadas a respeito dos Estados Unidos pode vir a ser processado, extraditado e preso, pois quem decide o que é informação de segurança nacional ou não é o próprio governo estadunidense”, avalia Cordeiro. “Já pensou se essa moda pega? Qualquer governo poder seguir o exemplo dos Estados Unidos e considerar de segurança nacional qualquer informação que não lhe interesse que seja divulgada?”.

O pesquisador faz ainda uma análise de conjuntura internacional na relação entre Brasília e Washington, que poderia reforçar a importância desse debate. “A negociação estará se dando em um momento de reconstrução de relações entre os governo brasileiro e estadunidense após as tragédias que foram os governos Trump e Bolsonaro, e ao mesmo tempo numa conjuntura de reaproximação na busca de uma solução em defesa da paz entre Rússia e Ucrânia”.

Na opinião dele, Lula tem condições de tentar unir países do Brics e do G20 em busca de uma “solução humana” para o caso Assange.

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi consultada sobre o assunto, mas até o momento, informou apenas que ainda não recebeu a carta.

Há quatro anos, Assange está preso em Londres, aguardando uma possível extradição para os Estados Unidos, onde pode ser condenado a uma pena de até 175 anos de prisão. Em 2010, ele publicou aproximadamente 250 mil arquivos, entre fotos, vídeos e documentos do Pentágono, que revelavam crimes de guerra cometidos pelos militares estadunidenses e práticas de tortura contra detentos da prisão de Guantánamo, base militar dos Estados Unidos em Cuba. Saiba mais sobre o caso.

Veja a carta na íntegra e assine se tiver interesse.

Edição: Thales Schmidt