Diplomacia

Apesar de 'atritos', acordo entre UE e Mercosul pode ser benéfico para ambos, diz pesquisadora

Brasil assumiu nesta terça (4) a presidência do bloco da América do Sul com novas críticas de Lula à proposta europeia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Lula e o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou , durante a foto oficial da cúpula do Mercosul - Nelson Almeida / AFP

Os países da América do Sul têm resistências e os europeus também têm suas reticências, mas o acordo entre Mercosul e União Europeia pode sair do papel e pode ser bom para ambos. Essa é a avaliação da professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Holzhacker, em entrevista ao Brasil de Fato.

Nesta terça-feira (4), durante 62ª Cúpula do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e Países Associados, em Puerto Iguazú, na Argentina, o Brasil assumiu a presidência do bloco da América do Sul. Durante discurso no evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar as cláusulas que a União Europeia quer incorporar no acordo com o Mercosul.

"O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente", afirmou no discurso.

Holzhacker destaca que desde a campanha presidencial, Lula apresenta seus descontentamentos com o acordo. Para ela, contudo, as negociações atualmente estão na fase de aparar as arestas e a parceria pode ser fechada.

"A gente vai entrar em uma nova fase, tem uma nova rodada de negociação. Para os europeus, é importante assinar o acordo, seria uma estratégia para conter e conseguir manter seu mercado frente à disputa com a China. E, por outro lado, para o Brasil também seria muito importante porque com isso a gente consegue avançar em novos acordos. A gente tem uma lista de acordo de acordos sendo negociados", disse a pesquisadora em entrevista ao Central do Brasil.

Retorno difícil

E a Venezuela voltou ao centro das discussões. Durante a cúpula do Mercosul, os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez,criticaram o país governado pelo por Nicolás Maduro.

"Está claro que a Venezuela não vai sair para uma democracia saudável, e quando há um indício de possibilidade de uma eleição, uma candidata como Maria Corina Machado, que tem um enorme potencial, é desqualificada por motivos políticos, e não jurídicos", disse Lacalle Pou.

Os venezuelanos estão suspensos do Mercosul e Denilde Holzhacker avalia que, apesar da presidência do Brasil no bloco, é "difícil" no momento vislumbrar o retorno de Caracas.

:: Lula compara oposição venezuelana a Bolsonaro e diz que país tem mais eleições do que o Brasil ::

"Nesse primeiro momento, é bastante difícil e é exatamente pela posição do Uruguai, que tem uma posição muito contrária. E como tudo tem que ser pelo consenso, teria que ter um esforço muito grande da Venezuela em demonstrar que está fazendo um processo democrático e que vai garantir as eleições de forma justa, e que tenha o papel das oposições", afirma a professora da ESPM.

Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai são, hoje, os integrantes plenos do Mercosul. Outras países da região fazem parte do bloco como países associados. A Bolívia, que acompanha a cúpula na Argentina com seu presidente Luis Arce, está em processo de adesão ao Mercosul. O Brasil expressou interesse em acelarar o processo de entrada dos bolivianos no Mercosul.

Edição: Nicolau Soares