Tensão

Violência na Cisjordânia é 'cortina de fumaça' do governo de Israel, avalia pesquisadora

Forças de segurança de Israel lançaram sua maior ofensiva contra o território palestina em anos

São Paulo (SP) |

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Protesto na cidade de Khan Yunis, na região sul da Faixa de Gaza, nesta terça-feira (4) - Said Khatib / AFP

Os ataques desferidos pelo governo de Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, contra a Cisjordânia são uma tentativa de esconder a realidade do país e angariar apoio. A avaliação é da professora de Relações Internacionais na Universidade de Sorocaba (Uniso) Karina Calandrin.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Calandrin relembra que lançar ataques militares sempre foi uma estratégia de Netanyahu ao longo de seus diversos governos. O premiê "realizava uma operação para aumentar seu apoio político em diferentes grupos da sociedade, até entre detratores, mas que frente a uma situação de perigo, de ataques terroristas, acabam apoiando o governo nessa postura mais dura frente à segurança".

Antes de retornar ao poder com uma coalizão que inclui grupos de extrema direita em 2022, Netanyahu governou Israel entre 2009 e 2021 e, antes disso, entre 1996 e 1999.

Sua crise política mais recente envolveu uma tentativa de esvaziar os poderes da Suprema Corte do país. Diante de protestos massivos, o governo retirou sua tentativa de reforma judicial.

Nesta terça-feira (4), Israel está sem seu segundo dia seguido de operação militar em Jenin. As autoridades afirmam que o objetivo é combater o terrorismo e a operação militar já contabilizou 11 palestinos mortos e milhares de deslocados. Um dos alvos é o campo de refugiados de Jenin.

Em comunicado, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês) destacou que militares israelenses cercaram e atacaram o campo de refugiados. Como consequência, "danos severos" à infraestrutura do local foram causados, prejudicando o sistema de água e de energia elétrica.

Além da violência em Jenin, o Hamas revindicou um ataque terrorista em Tel-Aviv, em Israel. Um carro investiu contra a multidão e deixou feridos.

Karina Calandrin diz que a violência se retroalimenta na região. "Não vai ter fim a violência enquanto um acordo de paz não for estabelecido entre as partes. Os palestinos precisam se unir em forma de uma única representação para negociar com Israel e Israel precisa ceder e propor reparações e compensações aos palestinos."

A pesquisadora aponta que essas compensações podem ser, inclusive, territoriais. "A violência é sintoma de um conflito que é intratável, que já dura praticamente 100 anos se a gente contar o período antes da criação de Israel e que não chega a uma conclusão por falta de comprometimento entre as partes", diz.

Edição: Leandro Melito