DOBROU NA PANDEMIA

Insegurança alimentar: 70 milhões no Brasil não tinham alimentos suficientes entre 2020 e 2022

Levantamento aponta ainda que mais de 10 milhões de brasileiros sofrem com a fome e a desnutrição

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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'Fila do osso', em Cuiabá, registrada em 2021: milhões de brasileiros vivem sem saber se terão o que comer no dia seguinte - Foto: Prefeitura de Bonito

O Brasil tinha 70 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar entre 2020 e 2022, durante a pandemia de covid 19. Isso significa que um terço dos brasileiros não tinham garantia de que conseguiriam se alimentar de maneira adequada no dia seguinte, em um cenário de isolamento social. Para cerca de 10 milhões, a situação era ainda mais grave: fome e desnutrição.

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (12) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O relatório mostra que a insegurança alimentar avançou no Brasil, e 32,8% dos habitantes do país chegaram a essa condição, quase o dobro da quantidade identificada no levantamento anterior, referente ao período entre 2014 e 2016, 18,3%.

O relatório destaca ainda os casos de insegurança alimentar severa, quando as pessoas efetivamente ficaram sem alimentação por um dia ou mais. Esse grupo representa, segundo a ONU, 9,9% da população brasileira, ou cerca de 20 milhões de pessoas. Já os dados mais graves, relativos à fome e desnutrição, se referem a pessoas em situação duradoura de desconforto ou dor pela falta de alimentação adequada.

Ao comentar os dados, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome, Wellington Dias, disse que o agravamento da fome e da insegurança alimentar no país é fruto do desmonte das políticas públicas sociais nos últimos anos.

"O país sofreu muito nos últimos três anos pela falta de cuidado e atenção com os mais pobres. Se tornou comum ver pessoas passando fome, na fila por ossos e catando comida no lixo para se alimentar. Esse relatório da FAO comprova que os últimos anos representaram um período de degradação da população mais pobre do nosso país", apontou.

Piora no cenário global

Os dados sobre o país foram divulgados no relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, elaborado pela FAO em parceria com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP).

O documento alerta que a fome se agravou no mundo no período analisado, com acréscimo de 122 milhões de pessoas nessa situação . No total, foram contabilizadas 735 milhões de pessoas sofrendo com a fome no planeta - um contingente superior à população de todo o continente europeu.

Globalmente, a insegurança alimentar moderada atingiu 2,4 bilhões de pessoas em todo o mundo. Como consequência, 148 milhões de crianças com menos de cinco anos tinham baixa estatura, enquanto outras 37 milhões conviviam com excesso de peso.

A ONU destaca que a pandemia de covid-19 fez a situação se agravar, especialmente nos países de baixa renda. Conflitos internacionais também aumentaram o problema, assim como as mudanças climáticas e a instabilidade econômica vivida por boa parte do planeta nos últimos anos.

Edição: Rodrigo Durão Coelho