Combate e vigilância

Julho Amarelo: Brasil busca soluções para eliminar hepatites virais até 2030

País precisa garantir prevenção, diagnóstico e tratamento; Ministério da Saúde anunciou novas diretrizes

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Brasil assumiu compromisso de eliminar a hepatite em território nacional até 2030 - © Arquivo/Agência Brasil
Entre 2000 e 2022, o país registrou mais de 85 mil mortes por todos os tipos de hepatite

Embora tenha registrado queda nos diagnósticos de hepatites virais nos últimos anos, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para eliminar a doença até 2030, cumprindo compromisso firmado com a Organização Mundial da Saúde (OMS)

Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou novas diretrizes para o registro e o tratamento da hepatite B no Sistema Único de Saúde. O objetivo é mais que dobrar o número de pacientes em atendimento, que atualmente somam 41 mil. O governo quer chegar a 100 mil com as mudanças.  

De 2000 a 2022 foram confirmados 750.651 casos em território nacional: 39,8% de hepatite C - que tem maior letalidade - 36,9% de hepatite B e 22,5% de hepatite A. A maior proporção de pessoas infectadas pelo vírus A foi observada na região Nordeste (30%). O Sudeste tem a maioria dos diagnósticos dos vírus B (34,2%) e C (58,3%).  

Nesse mesmo período, houve mais de 85 mil óbitos por causa da doença. Mais de 76% das mortes foram causadas pela hepatite C, seguida pela hepatite B (21,5%) e pela hepatite A (1,5%).   

Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 520 mil pessoas no país têm hepatite C, mas estão sem diagnóstico e tratamento. Já a hepatite B acomete quase 1 milhão de pessoas. Dessas, 700 mil também não foram diagnosticadas. 

De acordo com a pesquisadora Livia Melo Villar, chefe do Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), todas as formas da doença preocupam, mas os tipo B e C são responsáveis pela maior parte dos casos crônicos. 

"As hepatites virais podem ser transmitidas tanto por água e alimentos, principalmente as hepatites A e E, ou pelo contato com o sangue e por relação sexual, para as hepatites B, C e D. Hoje, no mundo todo, milhões de pessoas são portadoras crônicas de hepatite B ou hepatite C, que podem evoluir para formas mais graves, como cirrose e câncer de fígado." 

A queda nos diagnósticos observada entre 2019 e 2023 no Brasil, no entanto, não reflete necessariamente diminuição no número de casos da doença. Houve redução de 36% para hepatite B e 39% para hepatite C no período, mas cenário é explicado pela interrupção de diagnósticos causada pela pandemia da covid-19. 

Mas há resultados que o país pode comemorar. Com a vacinação incorporada ao calendário nacional desde 2014, hepatite A teve redução considerável. No ano passado foram 756 casos, o que representa menos de uma pessoa (0,4) com o problema a cada 100 mil habitantes. 

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Livia Melo Villar ressalta que a prevenção também tem papel fundamental no combate à doença e passa por políticas sociais e ações individuais. 

"As hepatites A e E são transmitidas principalmente através do contato fecal-oral. As principais formas de prevenção são medidas de saneamento e higiene realmente efetivas: locais com saneamento básico adequado e higiene adequada, lavagem correta das mãos antes e após o preparo de alimentos, além de evitar o contato com águas de chuva, rios ou praias que estejam contaminados."  

A pesquisadora lista ainda as medidas de prevenção relativas às hepatites B, C e D, transmitidas por sangue ou relação sexual.  

"Normas de biossegurança adequadas para recebimento e coleta de sangue, evitar o compartilhamento de agulhas, realizar procedimentos invasivos - como tatuagens e manicure - apenas em locais que tenham segurança para a realização são medidas muito importantes. Além disso, principalmente em relação à hepatite B, que tem uma taxa de transmissão sexual muito grande, o uso de preservativos sexuais é extremamente importante para evitar a transmissão".

Villar lembra que protocolos clínicos nacionais e internacionais já recomendam testes para hepatite B em pessoas com idade acima de 30 anos e para hepatite C para aquelas com mais de 40 anos, uma forma de contornar a possível subnotificação de casos assintomáticos. Ela ressalta também que os exames para diagnósticos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). 

“Hoje, o teste está disponível nos centros de testagem anônima, juntamente com testes para HIV e sífilis. Então, qualquer pessoa que, por exemplo, tenha passado por algum acidente biológico, no caso dos profissionais de saúde, ou tenha realizado sexo desprotegido, mesmo utilizando preservativo, pode ir a esses centros de testagem, independentemente da idade."

A meta estabelecida pela OMS prevê que 90% das pessoas com hepatites sejam diagnosticadas até 2030. O acordo também estabelece garantia de atendimento para 80% desse público, redução de 90% das novas infecções e de 65% da mortalidade. 

Edição: Thalita Pires