Memória viva

Festa na Maré e lançamento de fotobiografia celebram os 44 anos do nascimento de Marielle

Além de atividades na favela onde Marielle Franco cresceu, viúva e filha da ativista postaram vídeos sobre seu legado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A socióloga, política e ativista Marielle Franco nasceu em 27 de julho de 1979 - René Junior

Nesta quinta-feira (27) o complexo da Maré - onde Marielle Franco nasceu e cresceu – celebra os 44 anos de seu nascimento com uma festa, o lançamento de um livro com sua fotobiografia e a primeira exposição do acervo do instituto que leva seu nome.  

A homenagem acontece no momento em que vieram à tona novos capítulos da investigação sobre a execução que tirou a vida da vereadora e do motorista Anderson Gomes em março de 2018.  

A delação premiada do ex-policial Élcio Queiroz, que assumiu a própria participação e a de Ronnie Lessa no crime, resultou na prisão de mais uma figura: o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa. Mas não respondeu, ainda, a pergunta que reverbera há pouco mais cinco anos: quem mandou matar Marielle?  

"Hoje, mesmo que a saudade aperte muito, vamos celebrar a sua memória do jeito que ela fazia: sorrindo, com arte, cultura e muita gente em volta", postou Luyara Santos, filha de Marielle, que atualmente tem 25 anos. "Por isso que escolhemos passar esse dia ao lado de pessoas que amamos e entendem a importância desse legado", diz ela, em vídeo em que aparece no sofá, ao lado de seus avós, olhando fotos de sua mãe. 

As atividades na favela de onde Marielle é "cria" são gratuitas, começam às 17h e seguem até 22h30, com apresentações musicais de Evy, Natalhão, do rapper Marechal e de Preta QueenB Rull. O evento no Centro de Artes da Maré vem sendo divulgado com um carro de som pelas ruas do Complexo.  

"A fotobiografia e o acervo de Marielle são construídos por pessoas que viram de perto a Mari vivendo, vibrando e trazendo toda essa energia que ela trazia em vida. E a gente reúne todo esse material para preservar essa memória, para que ela seja lembrada daqui a 10, 50, 100 anos, por muitas gerações", aponta May Donaria, responsável pelo acervo do Instituto Marielle Franco. 

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O livro, lançado pela Editora Azougue Editorial, é organizado pelo instituto e pela vereadora e viúva da ativista, Monica Benício (PSOL). As fotografias inéditas ou pouco conhecidas são intercaladas com textos de pessoas convidadas, discursos e relatos de Marielle a respeito da própria história.  

Uma das fotografias mostra duas crianças – Marielle e sua irmã Anielle, hoje ministra da Igualdade Racial –, em cima da cama. Elas dançam e cantam no palco imaginário. Em outra imagem, já adolescente, ela aparece na Pastoral da Juventude da Igreja Católica, de onde fugia recorrentemente para ir ao baile funk.  

Assim como eventos que marcaram o aniversário da ativista em anos anteriores – como a inauguração de uma estátua no centro do Rio, o lançamento de uma história em quadrinhos sobre suas origens e uma live com Elza Soares – a fotobiografia visa conectar o ícone no qual Marielle se transformou com a memória da caminhada que fez com que, ao longo da vida, ela se engajasse nas pautas que encampou.  


A capa da fotobiografia de Marielle Franco, lançada no dia em que completaria 44 anos / Divulgação

"Celebro a existência atemporal deste amor"

"Quem nunca passou o luto talvez ache estranho continuar contando o aniversário de uma pessoa para o qual os anos não passam mais", Mônica Benício introduz, em vídeo, homenagem à sua parceira nesta quinta (27).  

"Mas essa insistência em contar o tempo parece me fazer acreditar no reencontro, como foram todas as vezes que nos separamos. Desde que nos conhecemos, parece que ironicamente, a vida foi uma espera para nos revermos", relata. 

Entre as coisas que faria diferente se soubesse que a última despedida de Marielle viria tão precocemente, Monica destaca que, mais que tudo, "não teria nos deixado perder tanto tempo na esperança de uma sociedade que aceitasse o amor entre duas mulheres". 

"Como Harvey Milk", diz ela, se referindo ao político e ativista estadunidense que foi o primeiro abertamente gay a ser eleito em um cargo público na Califórnia, "eu teria deixado que uma bala atravessasse todas as portas dos armários".  

"Eu já disse muitas coisas sobre a Marielle. Sobre o peso da sua ausência, sobre a importância da sua luta e, principalmente, sobre a necessidade que o Estado responda sobre o crime que lhe tirou a vida, para que a democracia finalmente tome contornos de justiça", discorre Monica, que além de vereadora, é arquiteta urbanista. 

"Tenho a certeza que amo melhor porque amei Marielle e fui amada por ela. Que juntas descobrimos o que era amar outra mulher. E foi nessa descoberta que achamos uma felicidade muita rara, que acontece quando nos vemos como realmente somos e como queremos ser", expõe Benício: "Então hoje celebro a existência atemporal deste amor e da sua afirmação, como quem se lembra de continuar sempre comemorando ser quem somos". 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação partilhada por Monica Benicio 🏳️‍🌈 (@monicaterezabenicio)

Edição: Thalita Pires