Crise Diplomática

Organização de Cooperação Islâmica apela à ONU, após queima do Alcorão na Suécia e Dinamarca

Intolerância religiosa gera crise diplomática e pode complicar entrada da Suécia na Otan

São Paulo |
Ahmad A. recebeu autorização para realizar um protesto em Estocolmo, Suécia, e durante o ato queimou uma Torá e uma Bíblia do lado de fora da embaixada isaelense em Estocolmo, em 15 de julho de 2023. - Magnus LEJHALL / TT NEWS AGENCY / AFP

A Organização de Cooperação Islâmica (OCI), que representa 57 Estados de maioria muçulmana, pediu a intervenção da ONU, diante da crescente queima de cópias do Alcorão na Suécia e na Dinamarca.

Nesta segunda (31), mais cópias do livro sagrado dos muçulmanos foram queimadas. A situação vem ocorrendo desde o final de junho, e culminou em crises diplomáticas entre os países nórdicos e Estados de maioria muçulmana, que denominam a queima do livro como “atos desprezíveis de agressão”.

A OCI solicitou que o secretário-geral da ONU nomeasse um relator especial para o combate à islamofobia, alegando o "aumento alarmante de atos premeditados e públicos de ódio religioso, que se manifestam pela profanação atual do Alcorão em vários países da Europa e em outros lugares". E solicitou que o assunto seja seja debatido na assembleia geral da ONU, prevista para ocorrer em setembro.

A organização também pediu para que os governos apliquem a lei existente ou adotem uma nova legislação, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que impeça atos de intolerância religiosa.

Na solictação enviada ao secretário-geral, a OIC afirma que “as tentativas de espalhar a islamofobia estão aumentando em muitas partes do mundo, como evidenciado pelo número crescente de incidentes de intolerância religiosa, estereótipos negativos, ódio e violência contra os muçulmanos; pois os incidentes de queima de cópias [do Alcorão] agravam a intolerância e a discriminação.”

Limites

Países de maioria muçulmana acusam a Suécia e a Dinamarca de serem condescendentes à intolerância religiosa, uma vez que autorizam os atos que permitem a queima do Alcorão.

Os países nórdicos se defendem sob a alegação de que a liberdade de expressão é garantida constitucionalmente até mesmo em casos de protestos de cunho antirreligioso. E que as licenças concedidas são para os protestos e não para a queima do livro sagrado dos muçulmanos.

No último domingo (30), o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, afirmou que o país busca uma ferramenta legal que permita que as autoridades impeçam a queima de cópias do Alcorão, como tem ocorrido em frente às embaixadas de outros países.

O ministro ainda afirmou que os atos são cometidos por indivíduos isoladamente. E que “essas pessoas não representam os valores sobre os quais a sociedade dinamarquesa está construída". Segundo Rasmussen, o governo dinamarquês considera “intervir em situações em que outros países, culturas e religiões sejam insultados, com consequências negativas para a Dinamarca".

O ministro das Relações Exteriores da Suécia, Tobias Billström, afirmou que a Suécia seguirá conversando e que deseja trabalhar em estreita colaboração com os países membros da OIC.

“O governo é muito claro em sua dissociação de atos islamofóbicos perpetrados por indivíduos em manifestações na Suécia ”, disse o ministro.

Em julho, países islâmicos como Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Marrocos, chegaram a convocar embaixadores suecos em sinal de protesto. Em Bagdá, a embaixada sueca foi incendiada e a embaixadora foi expulsa do Iraque.

Para a Suécia, os protestos também podem dificultar seu processo de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma vez que ela depende do voto da Turquia, país de maioria árabe, para ser incluída na aliança militar do Ocidente. O presidente do país, Tayyip Erdogan, já expressou seu descontentamento com os suecos. E chegou a afirmar que bloquearia a entrada do país na organização.

Mas no último encontro do bloco, em 11 e 12 de julho na Lituânia, Erdogan, voltou atrás e disse que seguiria com o protocolo de adesão da Suécia ao grupo, após a intervenção de membros da aliança, como o presidente dos EUA, Joe Biden. A preocupação é que Erdogan mude de ideia outra vez, já que o processo de adesão ainda está em curso.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho