Violência policial

Chacina do Guarujá: movimento negro acusa Estado de cometer 'execuções sumárias'

Movimento Negro Unificado chama governo de SP de 'genocida' em ato contra Operação Escudo realizado nesta quinta (3)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Protesto aconteceu em frente à Secretária de Segurança Pública de São Paulo - Lucas Weber

O governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi alvo de protestos, na noite desta quinta-feira (3), por conta da Operação Escudo, em curso no litoral paulista desde a última sexta-feira (28). Batizada de Chacina do Guarujá por movimentos populares, a ação da PM do estado de São Paulo já vitimou 16 pessoas, de acordo com os dados oficiais. 

Em frente à Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), localizada no centro da capital paulista, centenas de manifestantes, organizados pelo Movimento Negro Unificado (MNU), fizeram uma ação exigindo o fim imediato da operação. O ato durou cerca de três horas.

Para Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU, a polícia de São Paulo está "importando o modelo de milícia". "Com o escuso nome de 'Operação Escudo', na verdade o que está acontecendo lá são execuções sumárias. O estado brasileiro não pode ter esse direito sobre a vida dos seres humanos", protestou.

Confira a reportagem em vídeo:

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"A gente é muito solidário aos familiares da vítima do policial que foi executado no dia 27, mas a gente acha desproporcional que os territórios periféricos convivam com esse medo diante dessa operação que já vitimou mais de dez pessoas. Então essa manifestação é pra que acabe essa operação, que o Ministério Público possa investigar essa operação", resumiu a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Nascimento.

"A comunidade está assustada, tem amigos meus que moram dentro da comunidade, as mães deixam seus filhos nas casas de parentes porque não tem segurança dentro da comunidade", explica o auxiliar de enfermagem Alexandre Arruda Paula, que trabalha no Guarujá (SP), um dos município onde acontece a Operação Escudo.

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"A polícia o tempo todo de forma ostensiva passando pela comunidade armados, com as pistolas, com as escopetas, assim, uma realidade muito difícil", finaliza o Arruda.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) chamou as mortes de "efeito colateral", afirmou estar "extremamente satisfeito" com a atuação policial e disse que, se houver abusos, serão apurados. 

Em comunicado oficial desta quinta (3), a Secretaria de Segurança Pública paulista, comandada pelo policial Guilherme Derrite, informou que todos os "suspeitos" foram assassinados por "entrarem em confronto com a polícia. Todas as ocorrências com morte durante a operação foram resultado da ação dos criminosos, que optam pelo confronto".  

Também na quinta-feira, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo pediu que a Operação Escudo seja "imediatamente interrompida". 

Considerando esta como a segunda operação mais letal da história da PM paulista, ficando atrás apenas do massacre do Carandiru, com 111 vítimas, o documento pede que todos os policiais usem câmeras nos uniformes.  

As câmeras acopladas às fardas dos agentes são usadas apenas pela PM e não pela Polícia Civil, que também vem atuando na operação no litoral paulista.  

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Outro ofício da Defensoria foi entregue ao Ministério Público de São Paulo sugerindo a instauração procedimento autônomo para investigar as circunstâncias das mortes praticadas pela polícia. 

Outro lado

Brasil de Fato solicitou à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) um posicionamento sobre a estratégia montada para receber a manifestação desta quinta-feira (3), mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Caso o jornal receba retorno, este material será atualizado.

Edição: Thalita Pires