Vistoria às escuras

Diligência da CPI do MST vai a acampamento fora da rota prevista e impede imprensa de acompanhar

Com policiais federais impedindo que fossem acompanhados, deputados vistoriaram áreas do MST na zona rural de Alagoas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Imprensa, ativistas e moradores das comunidades foram barrados de acompanhar a visita requerida pelo deputado bolsonarista Fábio Costa (PP) - MST-AL

Jornalistas, moradores e apoiadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram impedidos de acompanhar uma diligência de deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST na zona da mata de Alagoas, na tarde desta sexta-feira (11).  

A sessão da CPI que aprovou a visita havia previsto que os deputados federais fossem aos assentamentos Ouricuri I, II e III, no município de Atalaia (AL). Mas a comitiva desviou a rota e foi ao Acampamento São José, na mesma cidade.  

"Não vai passar ninguém, ninguém", afirmou o comandante da Polícia Federal que posicionou os agentes em barreira na estrada que dá acesso ao acampamento, como mostra vídeo circulando nas redes sociais. "A gente nunca viu isso de imprensa não poder passar", contestou um jornalista empunhando um crachá.  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Compõem a diligência os deputados bolsonaristas Ricardo Salles (PL), que preside a CPI, Coronel Zucco (Republicanos) e delegado Fábio Costa (PP), além dos petistas Valmir Assunção e Paulão.  

De acordo com o requerimento feito por Fábio Costa, a visita tem o objetivo de "fiscalizar in loco o curso de bacharelado em Agroecologia da Universidade Federal de Alagoas – UFAL ofertado através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – Pronera, em parceria com o Incra". 

:: Alvo da CPI, curso do Pronera expande agroecologia em área marcada pelo trabalho escravo em AL ::

"O requerimento aprovado era para os assentamentos Ouricori I, II e III, respectivamente os assentamentos Milton Santos, Jaelson Melquíades e Chico do Sindicato. No entanto, vieram para um acampamento, indo nos barracos e impedindo que aqueles que vieram tanto do campo quanto da cidade pudessem acompanhar", relata Débora Nunes, da direção nacional do MST. 

"Isso só reafirma que é uma CPI que tem como único objetivo criminalizar o MST, criminalizar os lutadores e lutadoras da terra no estado de Alagoas e no Brasil e intimidar o governo para que não avance na reforma agrária", expõe Nunes. 

"Aqui a gente planta e colhe"


Um ato de solidariedade do MST reuniu cerca de 400 pessoas no local previsto para a visita da diligência da CPI / MST-AL

Dafne Orion, presidenta do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, foi uma das 400 pessoas que, em solidariedade ao MST, se dirigiu à região para acompanhar a comitiva dos deputados e, no entanto, não pôde avançar além da barreira de policiais.  

"Nós, trabalhadores urbanos, queremos aproveitar esse momento que temos aqui um deputado recém empossado, Fábio Costa. E foi ótimo o deputado ter vindo aqui hoje", ressaltou Orion.  

"Queria perguntar ao deputado se ele sabia que a comunidade estava vivendo com dificuldade de acesso por falta de estrada. Se o deputado sabe da dificuldade que é para trazer água encanada. E se o deputado está ocupado lá na Câmara Federal em trabalhar para restaurar isso aqui, para trazer qualidade de vida para a população no campo. Que é isso que ele devia estar fazendo", afirmou a sindicalista. 

A agricultora Viviane Ferreira, moradora do acampamento São José há 19 anos, descansava em seu barraco quando foi chamada às pressas pelas filhas.  

"Para mim foi uma surpresa a CPI ter vindo aqui porque a gente não estava esperando, e com a polícia. A polícia quando vem aqui vem para dar despejo. A gente teve até medo, as minhas filhas vieram assustadas ‘mãe, a polícia, é despejo?’”, conta. “Aqui mora eu, meus três filhos e meu esposo. A gente planta, colhe e queremos a posse do acampamento", explicou.  

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Edição: Rodrigo Durão Coelho