OPINIÃO

Sakamoto: Porto Alegre celebra bandido golpista ao tornar 8/1 o Dia do Patriota

Vereadores da cidade poderiam aproveitar a data para criar o Dia da Defesa da Democracia

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Golpistas invadiram e depredaram sedes dos três poderes em Brasília em 8 de janeiro - Marcelo Camargo / Agência Brasil

Um vereador do partido de Jair Bolsonaro propôs que fosse celebrado todo 8 de janeiro, data marcada pela tentativa de golpe que invadiu, depredou e roubou as sedes dos Três Poderes em Brasília, o Dia do Patriota. A Câmara Municipal de Porto Alegre deixou passar e o prefeito não vetou.

Em entrevista que nos concedeu, no UOL, nesta sexta (25), o presidente da Câmara, Hamilton Sossmeier, afirmou que a repercussão da data comemorativa no dia dos atos golpistas acabou gerando constrangimento entre vereadores. Segundo ele, ninguém havia se atentado que o 8 de janeiro era o escolhido.

O problema não é criar um Dia do Patriota, mas coloca-lo em uma data que será lembrada na história do país por sua infâmia. Pois não havia patriotas destruindo o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, em uma clara tentativa de derrubar o Estado democrático de direito, mas criminosos. Que, agora, estão sendo tratados como tal pela Justiça.

Pode parecer pouco, mas o projeto que criou a celebração em Porto Alegre é, na prática, um desagravo a bandidos que atacaram a República, uma tentativa de reescrever o que aconteceu naquele dia. É simbólico, portanto, fundamental.

A proposta do vereador Alexandre Bobadra (PL), apresentada em 15 de março, não precisa defender explicitamente o golpe para ser clara nesse sentido. Coincidentemente, o Tribunal Regional Eleitoral confirmou a cassação de seu mandato, no último dia 15, por abuso de poder econômico na campanha.

Tanto a Presidência da Câmara Municipal, quando a assessoria do prefeito Sebastião Mello, afirmam que não cabe a eles fazer juízo de valor sobre projetos de datas. Usam como justificativa a criação, há dois meses, do Dia em Defesa da Democracia, a ser celebrado também no 8 de janeiro.

O argumento é um falso paralelismo. Imagine que um vereador crie o Dia em Memória dos Mortos na Pandemia e, outro, para defender o coronavírus, proponha o Dia de Celebração da Covid-19.

Os vereadores da capital gaúcha, pelo menos os verdadeiros patriotas, não aqueles que usam a bandeira nacional para cometer delitos, estão tentando revogar o projeto. Poderiam aproveitar e criar, junto ao Dia em Defesa da Democracia, o Dia de Combate ao Terrorismo ou o Dia de Combate à Violência Política no 8 de janeiro.

Uma democracia não se faz com tolerância à intolerância sob o risco de os intolerantes destruírem os tolerantes.