COOPERAÇÃO

Integração: como vínculo de trabalho mudou vida de migrante do Benin no Brasil

Conheça o beninense Abdoul Razack, ex-estudante da UFMG que está empregado e com residência autorizada no país

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Abdoul Razack é formado em economia na UFMG - Foto: DIvulgação

“A minha felicidade depende da felicidade daqueles que podem seguir o mesmo caminho que o meu. Não valeria a pena ter uma documentação e ver que meu conterrâneo africano não tem”, conta o beninense Abdoul Razack, de 31 anos, que vive no Brasil há quase dez anos.

Abdoul saiu do Benin, na África, em 2014, selecionado pelo convênio de graduação PEC-G, do Ministério da Educação e das Relações Exteriores. Hoje, é mestre, está empregado e com residência autorizada, mas se vê como uma ponte para todos os migrantes e refugiados no processo de integração, inclusão e inserção na sociedade brasileira.

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele cursou economia e se formou em 2019, ano em que também foi aprovado no programa de pós-graduação do mesmo departamento, onde obteve o título de demógrafo.

“Essa socialização me possibilitou, fora da universidade também, atuar como promotor da minha cultura e de políticas públicas para a população migrante e refugiada. Eu tento contribuir com meus conhecimentos breves sobre o contexto africano e meus conhecimentos acadêmicos em si, acho que a gente não pode dissociar os dois”, comentou sobre seu engajamento, durante a graduação, em projetos de extensão, pesquisa e iniciação científica, e atuação como promotor da cultura africana no Brasil.

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Trabalho em Belo Horizonte

Em 2022, por encaminhamento de vaga de trabalho feito pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), Abdoul começou a trabalhar em um escritório de advocacia na capital mineira.

O SJMR está presente em sete estados brasileiros e em mais de 50 países e acompanha pessoas em situação de refúgio, migração e deslocamento forçado. Felipe Silva, analista social do escritório do SJMR em Belo Horizonte, foi o responsável por abrir o processo de autorização de residência de Abdoul, que meses depois foi deferido, após recurso, junto à Coordenação Geral de Imigração Laboral (CGIL), do Departamento de Migrações, órgão da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus). 

“A solicitação foi protocolada no ano passado e, em janeiro de 2023, foram abertas exigências no processo para a comprovação da qualificação profissional, a fim de atestar sua capacidade para o cargo que foi contratado. Abdoul, porém como mestre em demografia pela UFMG, estava apto para assumir o cargo de auxiliar administrativo e poderia até ser considerado overqualified [muito qualificado] para o posto que no Brasil é de nível médio”, explicou.


Abdoul saiu do Benin, na África, em 2014 e se formou em 2019 / Arquivo pessoal

Todo esse percurso nunca foi só sobre Abdoul, como ele mesmo avalia. “O momento em que eu entendi as fases do progresso de integração, via valor cultural e via documentação, reconheci que posso contribuir para a minha comunidade”, ressalta. Agora, passado o processo, ele quer compartilhar as informações com seus conterrâneos e contribuir para a sociedade brasileira.

O que é a autorização de residência?

A autorização de residência é concedida ao imigrante que pretende trabalhar, residir ou se estabelecer temporária ou definitivamente no Brasil, desde que a pessoa cumpra com as exigências previstas na Lei de Migração.

A partir da autorização de residência, o imigrante é registrado, por meio da identificação civil com a coleta de dados biográficos e biométricos, para obter o número de Registro Nacional Migratório (RNM) e a Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM).

Convênio de graduação

Mantido pelos ministérios da Educação e das Relações Exteriores, Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) é um dos programas brasileiros de mobilidade estudantil mais antigos do país, criado em 1965. O programa oferece vagas a jovens de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordo educacional, cultural ou científico-tecnológico.

A cooperação oferece para estrangeiros a oportunidade de realizar graduação, de forma gratuita, em instituições brasileiras de educação superior. O candidato deve ter idade mínima de 18 anos, possuir ensino médio completo e compovar proficiência em língua portuguesa.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Larissa Costa