CENTRAL DO BRASIL

Pesquisador avalia ligação de militares com o plano golpista: 'houve, no mínimo, prevaricação'

Em delação, Mauro Cid afirmou que almirante Almir Garnier se animou com a ideia de golpe apresentada por Bolsonaro

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirma ter presenciado a reunião em que o ex-presidente consultou os militares sobre plano golpista - Geraldo Magela / Agência Senado

A delação do tenente-coronel Mauro Cid colocou as Forças Armadas de volta no centro das suspeitas sobre um provável plano golpista arquitetado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cid diz ter presenciado uma reunião em que Bolsonaro teria consultado a alta cúpula dos militares sobre uma minuta golpista. O texto, levado ao ex-presidente pelo então assessor Felipe Martins, sugeria o impedimento da posse do presidente Lula da Silva e até a prisão de adversários políticos. 

Segundo o depoimento de Cid, entre os presentes apenas o almirante e então comandante da Marinha, Almir Garnier, se mostrou adepto ao plano.

Apuração do jornal Valor Econômico revela que, além de discordar do plano, o general Freire Gomes, comandante do Exército, também teria ameaçado prender o presidente, caso ele desse sequência às ideias golpistas. "Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo", teria dito o general. O comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Carlos Batista, ainda de acordo com o jornal, ficou calado. 

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Para o pesquisador do Instituto Tricontinental Jorge Rodrigues, o caso revela uma provável prevaricação dos militares presentes, caso seja verdade o conteúdo da delação de Mauro Cid. 

"Assumindo que ele esteja falando a verdade, alguém prevaricou. Porque, se houve uma proposta de uma minuta de golpe, um comandante de uma força armada se colocou disposto e os demais contrários não fizeram nada, houve, no mínimo, prevaricação", alertou. 

Jorge Rodrigues analisou as novas revelações de Mauro Cid durante o programa Central do Brasil desta sexta-feira (22) e comentou sobre a adesão ao bolsonarismo entre os membros das Forças Armadas, o andamento das investigações na CPMI dos atos golpistas e o papel do ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, neste cenário em que os militares estão cada vez mais ligados ao suposto plano golpista de Jair Bolsonaro. 

"Eu entendo que a gente não tem um ministro da Defesa. A gente tem um despachante das Forças Armadas junto ao governo federal. A função do ministro é representar a autoridade politica e democraticamente eleita junto aos militares. O que o Múcio faz é o processo contrário. Ele representa a voz das casernas junto ao governo federal", criticou o pesquisador. 

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Após a divulgação do depoimento de Mauro Cid, o ministro minimizou o envolvimento dos militares e afirmou que "muita gente não desejava sair do poder". Disse que, na transição, teve muita dificuldade para tratar com os comandantes e que o almirante Garnier foi o único que não o recebeu naquela período.

Múcio também afirmou que o conteúdo da delação de Cid, que lança uma suspeita sobre os militares, "incomoda" e "constrange". Além disso, afirmou que era preciso "fulanizar" e identificar quem são os militares envolvidos em planos golpistas, para que sejam tomadas providências. 

Jorge destacou, durante a entrevista, que já era bastante conhecida a postura golpista do almirante Garnier, exposta agora pela delação de Mauro Cid. 

"Todos nós que acompanhamos a temática sabíamos que o almirante Garnier é, de fato, bolsonarista. Todos nós sabíamos dessa inclinação golpista, no sentido de apoio ao ex-presidente na suas incursões", relembrou. 

A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (22) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube



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Edição: Thalita Pires