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General da reserva é alvo da 'Lesa Pátria', mas nega à PF participação em atos golpistas

Ridauto Lúcio Fernandes chegou a gravar vídeos em meio à multidão golpista de janeiro

Brasil de Fato | Brasília |
General da reserva, Ridauto Lúcio Fernandes - Divulgação/Exército Brasileiro

Em depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira (29) o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, alvo da 18ª fase da Operação Lesa Pátria, afirmou aos investigadores que não teria participado de atos de vandalismo e que foi à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro apenas para se manifestar, segundo fontes ligadas à investigação.

O militar prestou depoimento na sede da PF em Brasília e deixou o local no final da manhã. Ao portal Poder360 ele afirmou não ter “nada a temer”, logo após deixar a sede da Polícia Federal. 

Ridauto foi alvo de mandados de busca nesta sexta, teve seus ativos e bens bloqueados e seu passaporte, celular e duas pistolas apreendidas. Apesar de estarem regulares, as armas foram apreendidas por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Mores, como parte das medidas para garantir o ressarcimento aos cofres públicos dos prejuízos causados pelos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro e que, segundo estimativas da PF, podem chegar a R$ 40 milhões. 

O general da reserva entrou no radar da investigação por suspeita de que teria sido um dos responsáveis por idealizar os protestos e até, supostamente ter auxiliado a orientar alguns manifestantes devido a sua expertise. Ele faz parte de um seleto grupo no Exército, os chamados “kids pretos”, nome dado aos militares que fazem os cursos de Forças Especiais, espécie de tropa de elite do exército e que possuem alto conhecimento em técnicas de sabotagem e de incentivo à insurgência popular. Ridauto se formou na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1987. 

Desde que os vídeos das invasões e depredações do 8 de janeiro vieram à tona, chamou atenção da PF o fato de alguns invasores terem adotado técnicas profissionais para invadir os prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. 

Com extenso currículo, o militar tem mestrado em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na área de Defesa – Gestão de Pessoal. Foi diretor de Logística no Ministério da Saúde entre julho de 2021 e dezembro de 2022, durante a gestão general Eduardo Pazuello e também foi encarregado das Operações de Garantia da Lei e da Ordem na Região Metropolitana de Natal e em Mossoró, entre 29 de dezembro de 2017 e 12 de janeiro de 2018. Neste período ele ficou responsável pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte. 

Vídeo no dia dos protestos 

No dia dos ataques golpistas, Ridauto chegou a gravar vídeos que circularam entre amigos e familiares. "O pessoal acabou de travar a batalha do gás lacrimogêneo. Acreditem: a PM jogou gás lacrimogêneo na multidão aqui durante meia hora e agora eles estão aqui na frente e o pessoal está aplaudindo a Polícia Militar", disse em um dos vídeos que circulou na internet. 

Em seu perfil no Linkedin, o militar se apresenta como “Diretor de Segurança e Defesa do Instituto Sagres”, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que promove estudos e pesquisas em polícia e gestão estratégica, segundo o site da entidade. A reportagem entrou em contato com o Instituto e pediu um posicionamento de Ridauto sobre a operação de hoje, mas ainda não obteve retorno. 

De acordo com nota divulgada pela Polícia Federal, a operação desta sexta investiga fatos que podem configurar os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

A Lesa Pátria é uma operação instaurada após os atos golpistas para investigar, em diferentes frentes, os manifestantes que depredaram, instigaram, financiaram e fomentaram a invasão das sedes dos Três Poderes. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho