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Uma década de existência: conheça a Escola de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto

A metodologia tem quatro vertentes centrais: produção, comercialização e os eixos ambiental e social

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Ato político na festa da Escola Egídio Brunetto reuniu ministro, governador e parlamentares na Bahia - Matheus Alves
Essa escola é uma ferramenta pedagógica dentro desses territórios do Extremo Sul

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fundou em 2013 a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, no assentamento Jacy Rocha, no município de Prado, Extremo Sul da Bahia. 

Ao celebrar uma década de existência, no último dia 26 de agosto, o espaço ganhou novas estruturas como a criação de áreas administrativas, bloco de alojamentos, refeitório, auditório, salas de aula. Foi ainda inaugurada uma loja com produtos da reforma agrária. 

Neuza de Jesus é técnica de agroecologia e se formou na primeira turma da escola, iniciada em 2017. Ela mora no assentamento Irmã Dorothy, na cidade de Eunápolis, na Bahia, e recordou da relevância da formação para vivência dela no campo. 

"Eu vim para escola estudar visando me capacitar profissionalmente para poder atuar dentro dos acampamentos e assentamentos. Consequentemente, fazer um trabalho dentro do meu lote, na minha casa e também para os meus vizinhos", explicou. 

"A escola foi um divisor de águas na minha vida. A educação sempre vai libertar todo mundo, e com o apoio da escola popular eu consegui me formar, mesmo tendo três filhas, mesmo sendo mãe solo." 

Hoje, Neuza integra uma equipe composta por biólogos, agrônomos e técnicos em agropecuária, para orientar as famílias no processo de transição agroecológica no Assentamento Irmã Dorothy.
 


MST e autoridades políticas inauguram as novas instalações da Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto / Luara dal Chiavon

Metodologia

A metodologia da Egídio Brunetto tem quatro vertentes centrais: produção, comercialização e os eixos ambiental e social. Em parceria com a Fiocruz, a especialização em Educação do Campo e Agroecologia formou 48 pessoas em sua primeira turma.

Os espaços pedagógicos na Egídio Brunetto também são fundamentados nos quintais produtivos das famílias, onde os sistemas agroflorestais são a base fundamental. É onde estão inseridos os cursos populares não formais, voltados às produções desenvolvidas nos lotes – como é o caso do cultivo do café, da pimenta, e de outras fruticulturas.

"Essa escola é uma ferramenta pedagógica dentro desses territórios do Extremo Sul. Ela surge para poder contribuir na construção da agroecologia e da agrofloresta, no debate da produção de alimentos saudáveis, assim como a formação nesse viés da agroecologia de sem terra, indígenas e povos originários tanto desse território, aqui no estado da Bahia, como de fora, de outros países", contou  Eliane Oliveira, da direção nacional do MST, na Bahia. 

Presente em evento de celebração da Escola, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou a relevância do conhecimento para o desenvolvimento da agricultura. 

"Essa escola vai ser um centro de debate sobre o fortalecimento da agricultura familiar. Vai ser possível debater bioinsumos, energia solar, cooperativas e agroindústria", afirmou o ministro, relembrando que a escola cumprirá um papel de apontar os caminhos sobre como a agricultura pode "absorver as mudanças tecnológicas". 

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, também participou do ato político e comemorou a ampliação da escola. 

"A construção tem duas vertentes. A construção física dos alojamentos, do refeitório, das salas de aulas e laboratórios, das casas dos professores e professoras, mas há uma construção que não diz respeito a essa obra. É uma construção que diz respeito a um novo modelo de desenvolvimento. Nós estamos falando de uma descolonização brasileira. Descolonizar o povo brasileiro significa dar as condições de raciocínio, de capacidade critica, de análise. É esse o projeto que o MST traz nessa data de hoje"

Jacques Wagner (PT), ex-governador da Bahia e atual líder do governo no Senado, recordou a trajetória travada pelo MST para erguer a escola. 

"Para construir uma coisa boa, não acontece da noite para o dia. Isso foi luta de muita gente, dos governos meu e do Rui, agora do Jerônimo, de vocês do MST. E eu creio que esse lugar aqui será também um farol para algumas mentes fechadas entenderem que o MST não é um movimento da violência. Ele é um movimento que evita a violência no campo e na cidade", afirmou.



Agricultores na Feira da Reforma Agrária durante festa de dez anos da Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto / Matheus Alves

A festa de inauguração dos novos setores da escola foi prestigiada por 4 mil pessoas e recebeu visitas de integrantes do MST do Brasil inteiro e apoiadores, como o ex-jogador e campeão do mundo pela seleção brasileira, Raí. 

"Estou aqui para aprender com vocês e conhecer melhor. Eu estou também como ativista da educação. A revolução, a verdadeira revolução, vem da educação e do exemplo de vocês", afirmou o ex-atleta.

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Edição: Rodrigo Durão Coelho