MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Ondas de calor no Brasil foram causadas por interferência humana no clima, revela estudo

Emissão de gases do efeito estufa foi determinante para ocorrência de temperaturas extremas que castigaram população

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
Cientistas alertam que temperaturas extremos podem ser 'novo normal' do clima na América do Sul - Fernando Frazão/Agência Brasil

As mudanças climáticas causadas pela ação humana foram determinantes para a ocorrência das ondas de calor que superaram os 40ºC em grande parte do Brasil e na América do Sul em setembro deste ano. A conclusão é de um estudo de cientistas ligados à Rede Mundial de Atribuição (WWA) publicado na última terça-feira (10).

Segundo o estudo Strong influence of climate change in uncharacteristic early spring heat in South America (A forte influência das mudanças climáticas para o calor incomum no início da primavera na América do Sul, em tradução livre), o aquecimento global aumentou em pelo menos 100 vezes a probabilidade de que as recentes ondas de calor acontecessem. Embora o fenômeno meteorológico El Niño, que aqueceu as águas do Pacífico, tenha contribuído para as temperaturas extremas, ele não foi determinante, dizem os pesquisadores. 

"Descobrimos que, por causa das mudanças climáticas induzidas pelo homem, o evento [ondas de calor na América do Sul] teria sido de 1,4 a 4,3 °C mais frio se os humanos não tivessem aquecido o planeta queimando combustíveis fósseis", afirma trecho da pesquisa (em tradução livre do inglês).

:: Brasil em alerta: calor extremo dos próximos dias pode ser 'novo normal' ::

O estudo foi elaborado por 12 especialistas, incluindo Lincoln Muniz Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Eles alertam que ondas de calor como essas serão mais frequentes e intensas, se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas drasticamente.

“Queremos ser claros: um El Niño em desenvolvimento contribui para algum calor, mas, sem as alterações climáticas, esse calor primaveril tão intenso teria sido improvável”, disse Lincoln Muniz Alves, coautor do estudo e pesquisador do Inpe, 

O estudo examinou os dez dias mais quentes consecutivos em agosto e setembro na região central do Brasil, Paraguai e algumas áreas da Bolívia e Argentina, onde o calor foi mais severo. e utilizou dados meteorológicos e simulações de modelos computacionais.

A pesquisa foi revisada por pares, ou seja, submetida a exame de especialistas na área que podem corroborar ou sugerir revisões. O método contribui para a qualidade acadêmica do trabalho e lhe dá credibilidade científica. 

Onda de calor castigou capitais brasileiras

O artigo relata que durante os meses de agosto e setembro, as regiões ao sul do Brasil e países vizinhos experimentaram um período anormalmente quente que durou mais de 50 dias. As capitais brasileiras Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) tiveram o início de primavera mais quente dos últimos 63 anos.

:: Seca catastrófica na Amazônia ameaça produção sustentável que mantém floresta em pé ::

O calor extremo intensificou-se em 17 de setembro em todo o centro-sul brasileiro. A partir de 24 de setembro, a massa de ar quente predominou no centro-norte do país e se espalhou pelo Norte e Nordeste.

O pico ocorreu em 25 de setembro, com anomalias superiores a 7°C para a época do ano na região Sudeste, sul da Bahia, leste de Goiás e Mato Grosso do Sul e centro-norte do Paraná. Nas regiões centro e norte do Brasil, as temperaturas ultrapassaram os 40°C.

Edição: Rodrigo Durão Coelho