Não ao genocídio

Artistas, movimentos populares e intelectuais convocam manifestação por cessar-fogo em Gaza

Ato na USP está marcado para quinta (9) e pede posição incisiva do Brasil contra a violência no território palestino

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
População procura por sobreviventes e corpos de vítimas nos escombros de um bombardeio israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Mohammed Abed / AFP

Uma manifestação pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza foi convocada para esta quinta-feira (9), pelo comitê USP pela Democracia. O ato reunirá movimentos populares, entidades, artistas e intelectuais que cobram, além do fim dos bombardeios israelenses, um posicionamento mais incisivo do governo brasileiro em relação ao tema. 

"Estamos diante de um momento na História em que silenciar-se equivale a compactuar com um dos mais brutais genocídios que a humanidade já viu. A contagem dos mortos cresce num compasso que desafia a imaginação. A cada dez minutos, uma criança é enterrada sob os escombros", afirma o manifesto divulgado pelo grupo e que norteia o ato. 

Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP e integrante do grupo que organiza o evento, afirma que o confronto traz consequências globais, com instabilidade no mundo todo. Segundo ele, a guerra declarada por Israel provoca um questionamento sobre como a comunidade global lidará com a autonomia dos povos daqui por diante. 

"Esse conflito também coloca uma questão central para o nosso futuro político, que é se nós vamos ou não aceitar a existência de povos apátridas em situação de completa perda de direitos elementares e sujeitos a um tipo de poder discricionário externo. Isso talvez explique – entre outras coisas – porque esse é um conflito tão decisivo para todos aqueles que entendem que só podem existir direitos humanos se eles forem radicalmente universalizados."

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O professor afirma que o posicionamento do Brasil é importante pela relevância regional do país e pelo fato de que diversas comunidades árabes e judaicas vivem em território nacional.  

"O Brasil acolhe as duas comunidades em uma proporção numérica considerável. É uma das 10 maiores comunidades judaicas existentes no mundo e tem uma forte migração árabe, principalmente da Síria e do Líbano, além de outros países. Isso também nos toca de maneira muito forte. O Brasil pode dar um exemplo de o que uma sociedade marcada pela presença dessas duas comunidades está disposta a aceitar."

Com mais de 4,5 mil assinaturas até o momento, o manifesto está aberto para apoio público (clique aqui para acessar). O texto aponta "falência do sistema internacional" nos esforços para encerrar o "genocídio" e tece críticas à postura de países da União Europeia e dos Estados Unidos.  

"É urgente paralisar o massacre perpetrado por Israel, enfrentar a brutal ocupação militar dos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza, a anexação ilegal e limpeza étnica de Jerusalém Oriental, o sistema de segregação, humilhação e apartheid exercido sobre os palestinos de toda a Palestina histórica, incluindo o território do Estado de Israel onde representam 20% da população", enfatiza o documento. 

Entre os apelos ao governo brasileiro, está o pedido para que sejam revogados acordos militares e de segurança já firmados com Israel. Além disso, o grupo quer que o Brasil se manifeste favoravelmente à reativação do comitê da ONU contra o crime de apartheid, com objetivo de que a entidade averigue e encaminhe para julgamento as violações que ocorrem no território palestino. 

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O manifesto também pede posicionamento público explícito contra os ataques ao povo palestino. "Apelamos às autoridades para que o governo brasileiro sinalize de maneira enfática que não estamos dispostos a compactuar com o crime contra a humanidade em perpetuação na Faixa de Gaza; nem com a sua extensão, já em curso, para toda a Cisjordânia."

Nas palavras do professor Safatle, o cenário impõe a necessidade de defesa rígida das leis internacionais. 

"Até que ponto nós estamos dispostos a sustentar o direito Internacional e a lei Internacional? Porque há legislação internacional a respeito desse conflito. As Nações Unidas já apresentaram duas resoluções a respeito da necessidade de desocupação dos territórios que devem ser territórios para a formação do estado palestino. A pressão internacional deve ser pela realização da lei Internacional como a única garantia de que nós vamos ter alguma possibilidade de consenso na resolução de conflitos entre nações ou entre uma nação e um estado por vir, que é a situação na qual a Palestina se encontra."

A manifestação está prevista para começar às 18h, no Auditório Milton Santos, que fica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), no campus Butantã da USP, na cidade de São Paulo.  

Edição: Thalita Pires