violência no campo

Após execução de acampado, MST cobra presença do Incra contra violência na Zona da Mata em PE: 'Reforma agrária não se faz derramando sangue'

No último domingo (5), o agricultor e integrante do MST Josimar da Silva Pereira foi morto em Vitória de Santo Antão

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Ainda não se sabe a autoria e a motivação do assassinato. Josimar atuava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco - Pedro Stropassolas

No último domingo (5), o agricultor, acampado e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Josimar da Silva Pereira, foi assassinado na cidade de Vitória de Santo Antão (PE), onde morava. 

O camponês de 30 anos foi alvejado na nuca e nas costas enquanto se locomovia de moto para o Acampamento Francisco de Assis, onde trabalhava na irrigação do plantio de arroz orgânico. Ainda não se sabe a autoria e a motivação do assassinato. Josimar atuava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco, onde está localizado o acampamento há 29 anos, uma das ocupações mais antigas do MST no estado pernambucano. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Fernando Lourenço, da direção nacional do MST em Pernambuco, comentou a morte do companheiro e a onda de violência por parte de grupos de usineiros na Zona da Mata.

“O Incra teria que ter resolvido aquele processo para que não viesse a ter a perda de um companheiro. Estamos indignados com essa situação e o caso tem que ser apurado. Os usineiros estão se unindo", pontua Lourenço, morador do Assentamento Maré, no município de Aliança (PE).

"Aqui em em Goiânia houve um despejo, em que as famílias foram despejadas a bala. Pessoas até hoje feridas, justamente porque foram alvejadas, outras espancadas também, por milícias dessa região da Zona da Mata e também aqui na região metropolitana", detalha.

Segundo Lourenço, há um escalada da violência contra acampados e assentados em todos os estados brasileiros, resultado da inação do Estado e da falta de cumprimento da lei da reforma agrária.

“Reforma agrária não se faz derramando sangue, se faz dentro da ordem e da lei. E a lei de reforma agrária tem que ser cumprida. Tanta terra ainda devoluta, terra que não produz alimentos, com monocultora da cana de açúcar, terra grilada. Nós temos que continuar com isso para que o governo possa desapropriar a terra? Então, Incra. Vamos pra dentro do campo, vamos evitar o conflito agrário que está sendo acirrado no país inteiro”, conclui.

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Está todo mundo falando em conflito, mas não é conflito. É violência dos usineiros e senhores de engenho contra assentados e assentadas da Reforma Agrária.

O acampamento Francisco de Assis, onde Josimar foi assassinado, enfrenta uma ação de reintegração de posse impetrada pela Usina Alcooquímica JB. Integrantes da coordenação do acampamento, inclusive, estão no Programa Estadual de Proteção e Defesa de Defensores dos Direitos Humanos. Josimar, no entanto, não estava. 

Jaime Amorim, da direção nacional do MST, reforçou a importância da atuação do Estado na solução dos conflitos.

“Nós queremos deixar claro que o assassinato do companheiro não está isolado, há uma violência generalizada na Zona da Mata. Há os conflitos em Goiana, em Vitória de Santo Antão, no Cabo do Engenho Pimentel, em Amaraji, que estão à flor da pele. Nós temos em São Gregório, que até agora o Incra não pagou [pela desapropriação da terra], e o conflito só aumenta. Nós temos conflitos em Barreiros e em Jaqueira. Então é necessário que o governo tome providências, tanto o governo estadual, para evitar esses conflitos, como o governo federal”, analisa. 

Amorim pontuou que é tarefa dos governos estadual e federal frear a violência no campo em Pernambuco. Criticou também os leilões que acontecem na região de forma “arbitrária" e que beneficiam “engenhos com irregularidades tributárias e negação dos direitos trabalhistas".

“A gente precisa que o governo compre as terras para a reforma agrária, porque quem está comprando as terras nos leilões são justamente os fazendeiros que querem substituir a cana pelo gado. É hora de substituir a cana por uma grande reforma agrária na Zona da Mata. Está todo mundo falando em conflito, mas não é conflito. É violência dos usineiros e senhores de engenho contra assentados e assentadas da Reforma Agrária. Para evitar novos assassinatos na zona da mata, a reforma agrária é urgente”, completa.

Edição: Rodrigo Chagas