Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • TV BdF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • I
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem Viver
  • Opinião
  • DOC BDF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

relato

Vivendo na escuridão: a realidade da insegurança energética nas periferias

Em sua coluna mensal no jornal da USP, pesquisadora conta como a periferia enfrentou o recente apagão em SP

15.nov.2023 às 20h31
Elaine Santos
|Jornal da USP

Periferia teve que lidar com graves consequências nos dias que faltou luz em São Paulo - José Cícero/Agência Pública

Foi um início de mês infernal, sem energia, água e internet. Assim foi a rotina dos moradores da periferia de São Paulo nos dias que se seguiram ao temporal de 3 de novembro.

Após as primeiras 24 horas, lembrei-me de um livro do Jack London chamado A Greve, onde todos decidem parar suas atividades e de repente fica claro que sem trabalho não temos absolutamente nada. Essa reflexão pairou sobre mim enquanto esperava a luz do dia. Afinal, a luz solar, a princípio, ainda não foi privatizada.

Os comércios locais fecharam; a maioria deles não possui gerador, são comércios pequenos em que esta questão nem se coloca. Algumas pessoas optaram por ficar na casa de parentes mais próximos; não seria seguro voltar para casa no escuro. Em certos contextos, estar junto é a opção mais sensata.

Nas ruas, ouvi os vizinhos reclamando e falando da privatização, e de como se sentem desamparados em situações como essa. “Quando eu ligo para reclamar, ninguém atende!”, diziam. É muito difícil viver em áreas que quase ninguém se importa, onde o poder público só aparece em períodos eleitorais e os serviços essenciais são considerados itens de luxo. É um clichê, mas infelizmente é a realidade também.

Escrevo mensalmente nesta coluna sobre a energia como estratégica e central nas relações sociais e principalmente para o desenvolvimento do País. Desta vez, como não poderia deixar de ser, a realidade se impôs e vi, mesmo na escuridão, as dificuldades dos acessos mais mínimos quando nos falta este bem tão essencial: a luz.

Acostumada a lidar com as ausências, pensei que talvez, no meu inconsciente, foram estas ausências que me fizeram estudar e pesquisar sobre a energia e sua relação com a sociedade.

Imediatamente, lembrei da vizinha, uma senhora que, com diabete, mantém sua insulina na geladeira. Como fazer?

Após as primeiras 24 horas, tentando manter o mínimo de rotina, fui comprar pão; no entanto, não havia, pois a padaria também estava sem energia. O açougue mantinha um resfriamento natural, mas esses itens também devem ter estragado neste clima indefinido que temos e que deve piorar com as mudanças climáticas.

Na minha percepção, com base na experiência de quem sempre viveu aqui, parece que a qualidade dos serviços piorou muito. Lembro-me de temporais muito piores em tempos de chuva e intensidade, e nem de longe ficamos tanto tempo sem uma resposta.

Por outro lado, eu conheço e debato as mudanças climáticas, mas me preocupa quando a expressão é usada para desresponsabilizar quem precisa ser responsabilizado, ou mesmo para retirar aquilo que é mais evidente em contextos como estes: as classes sociais e a desigualdade. Algo notório é que, mesmo cem horas depois da chuva que causou esse estrago, muita gente continuava sem luz.

Conforme a energia foi se restabelecendo, sendo recepcionada até mesmo com panelaços e aplausos, muitos analistas começaram a escrever teorias e modelos para explicar algo tão simples: faltou a luz. A questão é por quê? A chuva já cessou há muito tempo; e por que ainda estamos nesta situação? Serei uma dessas vozes, mas, em meio à vida sem energia, percebi que sequer tive acesso a tudo que foi escrito nos últimos dias. Em meio ao caos, só queremos sair dele; foi o que eu tentei fazer junto com outros que fazem isso diariamente.

E, como sempre digo, se há áreas estratégicas para o Estado, a energia é uma delas. Nesse sentido, sempre me recordo da tese de um amigo que tive a oportunidade de ler (Sociedade, Natureza e Energia – Condições Estruturais e Superestruturais de Produção no Capitalismo Tardio), na qual o autor afirmava que, quando nossa visão da realidade se amplia, é possível perceber que, no capitalismo tardio brasileiro e suas condições estruturais, a produção das necessidades energéticas é extremamente complexa, cujo ponto de vista está sempre na ótica do planejador, pois é ele quem possui os instrumentos analíticos.

Na ausência desse conhecimento totalizante, “o planejador se transforma em mero técnico e contabilista da energia, jamais podendo pensar em política energética como um empreendimento de vulto e preparado para entender os contextos nacionais”. Fundamentalmente, em um país como o Brasil, altamente concentrador de renda, pensar o planejamento energético é, ao mesmo tempo, pensar nas condições econômicas que poderiam proporcionar maior igualdade social e distribuição da riqueza.

Nesse final de semana caótico, tornou-se evidente a existência de muitos contabilistas da energia e poucos planejadores, e essa ausência afeta a todos, principalmente de forma distinta, a periferia. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Clima e Sociedade em 2021 corrobora essa preocupação, e o impacto do valor da conta de luz na vida das pessoas é significativo. Segundo o estudo, para 90% dos entrevistados, o atual valor da conta de luz está impactando “muito” ou “um pouco” no dia a dia das famílias. Para conseguir pagá-la, quatro em cada dez brasileiros (40%) diminuíram ou deixaram de comprar roupas, sapatos e eletrodomésticos.

O estudo revelou que nove em cada dez pessoas entrevistadas expressam receios em relação à possibilidade de racionamento ou apagões no futuro próximo, sendo que 70% delas afirmam estar muito preocupadas com essa perspectiva. Além disso, seis em cada dez entrevistados afirmam ter aumentado seu consumo de energia este ano, enquanto nove em cada dez notaram o incremento nas contas de luz. Longe do centro, a periferia é conhecida por muitas inseguranças. A insegurança energética é apenas mais uma.

* Elaine Santos é pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Conteúdo originalmente publicado em Jornal da USP
Tags: apagãoenelperiferiasão paulo
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja assinar*
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

Economia

Haddad: 20 milhões de brasileiros não deveriam estar pagando IR

Questão Agrária

Após protesto e recuo de prefeitura, MST sela acordo por escola infantil no Pará

Resistência cultural

Para preservar cultura ameaçada, escola no Benin ensina língua materna do povo Adja

INVESTIGAÇÃO DA PF

Articulação com Netanyahu e figurinha com Trump: o que dizem as mensagens de Bolsonaro e Wajngarten

Solidariedade

Com brasileiros, Flotilha da Liberdade leva ajuda humanitária a Gaza

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem Viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
  • Bem Viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevistas
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.