Violência política

Transfobia no RJ: Benny Briolly e Dani Balbi relatam abusos diários na política institucional

Segundo cientista política, a violência é uma reação do patriarcado que se intimida com a voz dessas mulheres

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Para Benny, a violência política de gênero é reflexo do preconceito enraizado na sociedade - Foto: Reprodução/Facebook

O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo, segundo estudo da Organização Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). O preconceito existe em todos os segmentos da sociedade, e não é diferente na política. Parlamentares têm denunciado casos de transfobia e misoginia dentro e fora das Casas Legislativas.

É o caso da vereadora de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, Benny Briolly (Psol), que já sofreu diversas agressões dentro da Câmara Municipal por ser travesti. A mais recente foi um protesto dos vereadores contra a roupa que Benny usava. Ela é a única mulher trans vereadora do município e atualmente anda com escolta por conta de ameaças de morte.

“Quem que pensa a forma que veste o parlamento senão os homens cis, héteros, brancos? Quem que pensa a forma que veste o judiciário senão os homens cis, héteros, brancos. Todos esses espaços de poder. Agora quem pensa e quem vai pensar a ocupação do meu corpo nesses espaços não são eles. Nós entramos na política inclusive para combater o extermínio, a violência que nós mulheres travestis, transexuais, bissexuais, mulheres lésbicas, negras, originárias, no sentido geral, nós mulheres enfrentamos na sociedade”, explica a vereadora.

:: Quem é Benny Briolly, a primeira vereadora trans eleita em Niterói (RJ)? ::

 

Para Benny, a violência política de gênero é reflexo do preconceito enraizado na sociedade. “Os dados de assassinatos de mulheres travestis e transexuais são gigantes, os dados de abuso, estupro, estupro corretivo são gigantes, isso é um sinal de que esses dados são uma reflexão dentro da institucionalidade, e a institucionalidade não pode corroborar, ser um instrumento de permissão para que a violência e a manutenção da violência sejam contínuas nesses espaços”.

A deputada estadual, Dani Balbi (PCdoB) também vem denunciando uma série de ataques transfóbicos dentro do plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Para ela, é de extrema importância que esses espaços sejam ocupados, cada vez mais, por pessoas LGBTQIA+ para acabar de vez com o preconceito.

:: O dia em que o Conselho de Ética legitimou o crime de transfobia na Câmara dos Deputados ::

“A importância de ser uma mulher transexual, preta, de origem pobre e periférica e comprometida com a superação do capitalismo aqui na Alerj para que nós tenhamos uma voz diretamente ligada a denúncia e a superação de todas as discriminações e opressões contra o segmento LGBTQIA+, contra mulheres trans, homens transexuais, mulheres lésbicas, articulada, interconectada com o projeto maior de nação, um projeto emancipado”, disse em entrevista ao Brasil de Fato.


A deputada estadual tem sofrido uma série de ataques transfóbicos dentro do plenário da Assembleia Legislativa do Rio / Reprodução PCdoB

A cientista política, Mayra Goulart explica que esses casos de violência política de gênero são uma reação direta do patriarcado que se sente ameaçado com a inclusão.

“O patriarcado compreende uma pirâmide com vários elementos hierarquicamente estruturados, no topo desta pirâmide estão os homens brancos heterossexuais e de classe alta, e aí vários níveis aparecem abaixo até chegar na base dessa pirâmide que é constituída pelas pessoas trans, pessoas não cis, negras e de classe popular. Talvez a percepção de que essa forma de concatenação está sendo posta em xeque, tá sendo posta em ameaça, gere essa reação que se dá através de violência física, psicológica, interrupções, desqualificação, mainsplaning”.

:: Marielle Franco inspira leis estaduais contra violência política de gênero ::

Benny Briolly foi a primeira vereadora travesti eleita em Niterói, assim como Dani Balbi foi a primeira deputada transexual da Alerj. Em 2018 e 2022, o país viu o número de candidaturas de pessoas LGBTQIA+ crescer significativamente.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse