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Militantes sociais de países africanos discutem combate à fome e à desigualdade social

No BDF Entrevista desta semana, ativistas sociais do Quênia e da Tanzânia debatem o enfrentamento de males do capital

Ativistas do Quênia e da Tanzânia participam da 3ª Conferência Internacional Dilemas da Humanidade - Iolanda Depizzol/ Brasil de Fato
A guerra que estamos lutando é grande e não seremos capazes de lutar se estivermos sozinhos.

Os dilemas sociais na parte norte do continente africano não se diferenciam do que acontece no restante do mundo, sob a égide do capitalismo: fome e desigualdade social. É o que explicam ativistas sociais e militantes populares reunidos na 3ª Conferência Internacional Dilemas da Humanidade.

A atividade, organizada em meados de outubro, em Joanesburgo, na África do Sul, reuniu pessoas de todo o mundo, com o objetivo de debater as principais questões que afetam a humanidade neste século XXI.

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A Conferência é uma articulação de movimentos populares que integram a Assembleia Internacional dos Povos e já teve duas edições realizadas no Brasil: no Rio de Janeiro, em 2004 e no interior de São Paulo, em 2015.

Para entender como esses dilemas afetam a humanidade no continente africano, o BDF Entrevista desta semana convidou Theodora Pius, da Rede de Pequenos Agricultores da Tanzânia, Lewis Maghanga, da Liga Revolucionária Socialista do Quênia e Nikolas Mwangi, integrante da Biblioteca Ukombozi, também do Quênia.

Para Theodora Pius, há um afastamento crescente das pessoas das áreas rurais, criando um vácuo com quem vive nas  grandes cidades.

“A quantidade de dinheiro ditará em que ambiente você dorme. Quem vive em áreas rurais está sendo saqueado constantemente, em vários aspectos. É inacreditável como suas terras estão sendo saqueadas, mas também a sua cultura de produção, desde a forma de cuidar das coisas, como as sementes, que estão sendo roubadas”, explica Pius.

Segundo a ativista, também a humanidade destas pessoas está sendo roubada. Quem vem da roça, do campo, é chamado de caipira na cidade. Quando uma criança comete um erro, a escola diz que ela vai fracassar e terá que ir para a roça, para o campo”, completa. 

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Já Lewis Maghanga relembra que os países do continente africano têm enfrentado questões comuns em sua economia, entre elas, os preços dos produtos, que aumentaram drasticamente nos últimos anos. No Quênia, entre 2006 e 2022, a taxa média de inflação chegou a 10% ao ano, atingindo principalmente as camadas mais populares da sociedade. 

“Alimentos e sementes foram patenteados e seus preços aumentaram. Como as pessoas envolvidas na produção de alimentos podem se sustentar? Como podemos garantir um crescimento com soberania? É um momento importante para a classe trabalhadora, onde ela pode trazer crescimento para o país, de uma forma que não cause danos ao meio ambiente”, aponta Maghanga.

Nikolas Mwangi destaca que espaços como a Conferência Internacional Dilemas da Humanidade dão oportunidade para o debate coletivo dos problemas comuns à classe trabalhadora em todo o mundo e propiciam maneiras de encontrar unidade entre os diversos movimentos e formas conjuntas de resolução destes problemas.

“Já conhecemos os problemas, então como podemos encontrar as soluções? A guerra que estamos lutando é grande e não seremos capazes de lutar se estivermos sozinhos. Nós estamos colaborando com a classe trabalhadora, com estudantes universitários e encontramos diferentes maneiras de fazer isso e a educação política é uma delas. As pessoas não sabem o poder que elas têm de mudar as coisas”, explica Mwangi.

Edição: José Eduardo Bernardes e Rebeca Cavalcante