Conferência do clima

A um dia do fim da COP28, secretário-geral da ONU pede máxima flexibilidade nas negociações

António Guterres apelou para que nações deixem de lado posturas intransigentes e alertou: “estamos quase sem tempo”

Brasil de Fato | Dubai (Emirados Árabes Unidos) |
Minutos antes da fala de Guterres, movimentos populares globais fizeram protesto silencioso na COP e pediram firmeza nas decisões da conferência - © Nara Lacerda / Brasil de Fato

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) António Guterres pediu que os países envolvidos nas negociações da COP28 maximizem os esforços para chegar a acordos que possibilitem a redução das emissões de gases que causam efeito de estufa e a justiça climática. As declarações foram feitas em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (11), um dia antes do prazo final da conferência global do clima. 

“À medida que nos aproximamos do fim da COP28, minha mensagem principal é clara. Precisamos concluir a COP28 com um resultado ambicioso que demonstre ação decisiva e um plano crível para manter o objetivo de 1,5 grau e proteger quem está na linha de frente da crise climática. Não podemos continuar adiando as decisões. Estamos sem opções. E quase sem tempo.” 

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Segundo ele, a 24 horas do fim do evento, ainda existem grandes lacunas e é preciso "máxima ambição”. Guterres afirmou que as nações devem superar posições inflexíveis e deixar de lado táticas de bloqueio às soluções propostas nas negociações. O líder da ONU ressaltou ainda que os resultados da COP28 podem mostrar a um “mundo dividido” que o multilateralismo ainda é a melhor esperança para enfrentar desafios globais.  

A revisão global - um balanço sobre como cada país está atuando para cumprir o Acordo de Paris e que será finalizado na Conferência - precisa oferecer um plano explícito para chegar aos objetivos de triplicar as energias renováveis e dobrar a eficiência energética, pontuou Guterres.  

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Nas palavras dele, essa é a única maneira de enfrentar a produção e o consumo de combustíveis fósseis, que o secretário classificou como as raízes da crise climática. O chefe da ONU também enfatizou que os governos precisam garantir proteção social para comunidades que podem ser impactadas negativamente pela transição.  

“Ao mesmo tempo, as necessidades dos países em desenvolvimento, altamente dependentes da produção de combustíveis fósseis também precisam ser consideradas”, disse o diplomata, que ressaltou a necessidade de levar a diversidade de situações de cada nação em consideração, “não para reduzir a ambição, mas para combinar ambição e equidade”, completou. 

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Ao mencionar o Pacto de Solidariedade Climática, Guterres frisou que os grandes emissores devem se esforçar para reduzir as atividades poluentes e que os países mais ricos precisam apoiar as economias emergentes nesse processo. Prazos e metas podem até ser diferentes, mas todas as nações devem ser consistentes com os objetivos finais. 

“Muitos países em desenvolvimento estão afundados em dívidas, não têm espaço fiscal e enfrentam custos razoáveis para os esforços de ação climática. E precisamos de muito mais ambição na adaptação. A COP28 deve enviar sinais claros de que os governos entenderam a escala da adaptação e que ela é uma prioridade, não apenas para os países em desenvolvimento, mas para o mundo inteiro.” 

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Ele também destacou que estabelecer metas sem demonstrar os meios de implementação é como ter “um carro sem rodas”. O chefe da ONU frisou que os governos precisam preparar e apresentar novos planos e contribuições nacionais de ação, que sejam abrangentes, cubram todos os gases de efeito estufa e estejam totalmente alinhados com os limites de aumento de temperatura de 1,5 grau. 

Guterres disse ainda que, apenas o financiamento climático não resolverá todos os problemas de equidade em relação ao clima. Segundo ele, é preciso mudar o modelo financeiro internacional para aliviar dívidas e garantir mais recursos disponíveis para os países em desenvolvimento, não apenas com foco nas ações climáticas, mas também para enfrentar “a situação financeira dramática em que muitos deles se encontram.”  

A jornalista viajou a convite da Fundação Rosa Luxemburgo.

Edição: Vivian Virissimo