FRUSTRAÇÃO

COP28 termina com movimentos populares impotentes frente a indústria do petróleo empoderada

COP só não frustrou mais porque expectativas já eram baixas; discussão climática deve ficar estagnada até COP30 em Belém

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
Manifestantes em Dubai pediram que países ricos paguem por crise climática - Giuseppe Cacace/AFP

A 28ª Conferência Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada pelos Emirados Árabes Unidos, um país petroleiro, termina nesta terça-feira (12) com o sentimento de impotência dos movimentos populares e o empoderamento da indústria do petróleo. Para ativistas e especialistas, a COP28 só não foi mais frustrante porque as expectativas já eram muito baixas.

Os governos tentaram mostrar que estão fazendo algo para deter o aquecimento global, mas deixaram claro que não pretendem abrir mão do petróleo tão cedo. Os movimentos populares e ativistas clamaram pela necessidade de deter imediatamente o colapso climático e pelo direito de participar das decisões - e quase ninguém parece ter dado ouvidos.

Em Dubai, Camila Aragão, ativista da Rede Vozes Negras pelo Clima, participou de protestos e debates. “É fundamental estarmos aqui e ocupando esse espaço, mas - nossa! - o que é que eu estou fazendo aqui? Eu me faço essa pergunta o tempo todo. Porque eu me sinto impotente nas reais negociações, nas reais decisões", afirmou. 

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“Foi um choque ver mais de dois mil lobistas da indústria do petróleo e gás circulando livremente, fazendo um lobby intenso", relatou Juliano Araújo, do Instituto Arayara, que sentiu na pele como é ser um ativista pró-energia limpa em um país sede que usou a COP para fazer negócios petroleiros. 

"Observei um alto grau de restrição de atuação e liberdade de expressão na sociedade civil, com exceção das manifestações autorizadas dentro dos próprios pavilhões. Ou seja, era uma espécie de manifestação de nós para nós mesmos”, reconheceu Araújo.

Petróleo roubou os holofotes 

O Brasil chegou a Dubai com a lição de casa feita: uma redução no desmatamento da Amazônia de 50% em 10 meses. No entanto, o exemplo positivo do país teve pouca força para mudar os rumos de uma COP dominada pela indústria dos combustíveis fósseis e sediada em um país sem tradição democrática.

A diplomacia brasileira pressionou por um compromisso global de limitar o aquecimento do planeta em um grau e meio. E, na contramão, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) anunciou um megaleilão de 21 blocos de exploração na Bacia Amazônica, região que sofreu uma seca sem precedentes neste ano.

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Em Dubai, o governo federal anunciou ainda mais de 20 bilhões de reais para financiar projetos de transição energética, bioeconomia e descarbonização da indústria. Os bons exemplo, no entanto, foram ofuscados novamente. Lula anunciou a entrada do Brasil na OPEP+, a extensão da OPEP, um cartel dos países que mais produzem petróleo.

Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, avaliou a situação: “Essa COP foi uma COP lançada no seio de países produtores de petróleo, sob o comando dos países produtores de petróleo e com uma orientação dos países de petróleo para não fazer concessões com relação a redução e eliminação de combustíveis fósseis.”

Período obscuro para discussões climática até 2025

Durante a Conferência em Dubai, a ONU bateu o martelo sobre a sede da COP29 em 2024. O escolhido foi o Azerbaijão, país ainda mais dependente do petróleo do que os Emirados Árabes.

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Especialistas e ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato acreditam que avanços concretos só poderão vir da COP30 em Belém do Pará.

“Essa realidade nos lançou num momento muito difícil, onde os resultados da COP 28 são pífios. Não há outra palavra para definir isso. E pior: lançando a conferência para o Azerbaijão, que é um país que está nas mesmas condições de conflito de interesses na questão do petróleo. Ou seja, até a COP 30 no Brasil nós passaremos por um período obscuro no sentido de um avanço mais propositivo para a questão climática global,” concluiu Carlos Bocuhy.

*colaborou Elitiel Guedes

Edição: Rebeca Cavalcante e Thalita Pires