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Adversário do Fluminense, Al-Ahly é gigante fundado pelo nacionalismo egípcio contra domínio britânico

Jogo contra o Al-Ittihad, da Arábia Saudita, contrapôs duas visões de mundo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Com a torcida contra, o time egípcio venceu o Al-Ittihad por 3 a 1 e enfrenta o Fluminense na semifinal do Mundial da Fifa - Divulgação/Al-Ahly

Entre tantas estrelas chegando na Arábia Saudita esse ano, o Al-Ittihad tinha um sonho de contratação: Mohamed Salah, o melhor jogador árabe do mundo.

Foi uma surpresa para os egípcios quando o Liverpool o segurou.

Para muitos, a Arábia Saudita e o dinheiro do Golfo compram tudo.

Nos anos 50, com a revolução egípcia, a nacionalização do canal de Suez e o governo de Gamal Abdel Nasser difundindo o ideal do pan-arabismo, a união dos povos árabes, o Egito era talvez o grande líder dessa parte do mundo.

Mas os tempos mudaram. Hoje, o Golfo é quem manda.

Como o Egito atravessa uma profunda crise econômica, no início de 2023, houve um baque no orgulho nacional:

O outrora majestoso zoológico de Gizé, o 3º mais antigo do mundo, fechou as portas e foi vendido a investidores dos Emirados Árabes Unidos, que devem bancar sua renovação.

Outro golpe no orgulho egípcio ocorreu em 2016, quando a ditadura de Abdel Fattah al-Sisi concedeu a soberania de duas ilhas desabitadas, Tiran e Sanafir, à Arábia Saudita, em nome de acordos comerciais.

Situadas no Mar Vermelho, elas tinham grande importância estratégica.

A concessão levou a protestos contra Al-Sisi e é ainda muito contestada no país. Esse acordo foi o cartão de visitas de Mohammad bin Salman, novo líder saudita, na relação com o Egito.

Mas se o dinheiro compra ilhas e animais, por que não compraria Salah, outro tesouro egípcio?

Por isso, foi mesmo surpresa quando o Liverpool disse não ao Al-Ittihad, um dos clubes que agora é posse do Estado saudita.

A partida entre com o Al-Ahly, o gigante egípcio que é o maior campeão continental da África, foi um enfrentamento entre duas visões de mundo.

De um lado, o Al-Ahly – "O Nacional", em árabe – é o clube representante do nacionalismo egípcio, fundado quando o país era um protetorado britânico, para que jovens patriotas pudessem se exercitar. O futebol viria depois, e transformaria o clube em religião.

Do outro lado, o Al-Ittihad – "A União" –, cuja fundação pioneira em 1927 precede a existência da própria Arábia Saudita, que só viria a ser criada cinco anos depois. O orgulho de ser o primeiro clube de futebol do Golfo está marcado até no distintivo do time, que carrega o número 1.

São dois clubes com muita história, e embora a balança econômica pendesse para o lado dos sauditas, a vitória ficou com os egípcios, por 3 a 1, que enfrentam nesta segunda-feira (18) o Fluminense por uma vaga na decisão do Mundial de Clubes de 2023.

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Edição: Thalita Pires