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Após rompimento da barragem da Vale, cresce insegurança alimentar nas regiões atingidas

Nos últimos cinco anos, famílias também relatam falta de acesso à água, perda de renda e agravamento de doenças

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

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Uma pesquisa, realizada pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), ouviu 3638 atingidos. - Foto: Flickr/ Mídia Ninja

Após o rompimento da barragem da Vale em 2019, famílias de comunidades ao longo de toda a extensão do rio Paraopeba e da represa de Três Marias relatam o aumento das vulnerabilidades sociais e econômicas. Entre os principais impactos, estão a insegurança alimentar e hídrica, além da perda de renda.

Uma pesquisa, realizada pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), ouviu 3.638 atingidos. Desses, a maioria indicou que deixou de produzir alimentos para consumo próprio e reduziu o consumo no comércio local.

Entre os entrevistados do município de Papagaios (MG), por exemplo, quase 85% apontaram a redução do consumo de peixes, por medo da contaminação.

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“A redução do consumo de alimentos oriundos da própria propriedade pode implicar em um crescimento significativo das despesas e no aumento da situação de insegurança alimentar e nutricional”, avalia o Nacab, que também enfatiza que a mudança de hábito impacta na qualidade das refeições e na saúde dos atingidos.

Além disso, 53% afirmaram que tiveram a renda diminuída, 46% que precisaram reorganizar sua atividade produtiva e 44,5% relataram o aumento das despesas, devido às mudanças de hábitos de compra.

Atingidos reclamam falta de assistência

Sávio Alves de Paula, morador da comunidade Fazendinhas Baú, que fica no município de Pompéu, conta que não foi reconhecido como atingido pela mineradora, não recebe nenhuma assistência e, por isso, depende da solidariedade de amigos e familiares para ter acesso à água.

“O rompimento fez um estrago tremendo. Contaminou o lençol freático e os nossos poços artesianos, que ficam a 30 metros do rio. Também houve contaminação dos peixes e dos animais, que ficaram doentes. Eu não pude receber nem água mineral. Hoje, eu vivo com doação de água”, relata.

Um dossiê de danos, produzido pelo Instituto Guaicuy, destaca que, nos municípios de Pompéu, Curvelo, Felixlândia, Morada Nova de Minas, Biquinhas, Paineiras, Martinho Campos, Abaeté e Três Marias, também houve o agravamento de doenças físicas e mentais.

Segundo o instituto, entre as famílias acompanhadas pelo Guaicuy, mais da metade afirmam ter alguém na residência que desenvolveu algum problema de saúde ou teve sua situação agravada após o rompimento.

Entre as principais enfermidades citadas, estão doenças dermatológicas, respiratórias, depressão, doenças neurológicas e hipertensão arterial.

Outro lado

Em nota ao Brasil de Fato MG, a Vale “reafirma seu respeito às famílias impactadas pelo rompimento da barragem e segue comprometida com a reparação dos danos, o que vem avançando de forma consistente e nas bases pactuadas no acordo judicial de reparação integral e em outros compromissos firmados para indenização individual, todos com participação de instituições de Justiça”.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Larissa Costa