Após três dias seguidos sem energia elétrica, moradores de Maricá, na região metropolitana do Rio, ainda estão se recuperando dos prejuízos. De acordo com eles, os apagões são recorrentes em diversos bairros do município atendidos pela Enel e foi preciso que a Justiça acionasse a concessionária, na última segunda-feira (22), para reestabelecer o serviço.
Dona Graciete Regina, de 59 anos, mora no bairro de Itaipuaçu e tem um pequeno comércio. Ela conta que os problemas com o fornecimento de energia não começaram agora. Há poucos meses, em outubro, a aposentada também ficou dias consecutivos sem luz e perdeu todos os alimentos da geladeira.
Ao Brasil de Fato ela conta que a instabilidade na energia elétrica quase provocou um incêndio no ar-condicionado da família durante a madrugada. Além do susto, ela explica que o prejuízo não fica só dentro de casa.
"Na minha casa tem um bebê de oito meses e uma criança de três anos, a gente não está aguentando ficar a noite quase toda sem energia quase todo dia. A gente também tem um comerciozinho aqui. Falta energia e o cliente vai embora porque não passa um cartão, é aquele transtorno, né? Só Deus para nos ajudar. Precisamos que as autoridades tomem providências, porque a população daqui cresceu, mas não investiram na energia", relata a moradora.
Leia mais: Procon-RJ registra aumento de reclamações contra a Light por falta de energia
Na última semana, o apagão em Maricá aconteceu em meio a onda de calor, o que levou moradores a passarem a noite na praia para fugir das altas temperaturas. Além de Itaipuaçu, Araçatiba, Espraiado, Parque Eldorado, Itapeba, Boqueirão Flamengo, Inoã e Ponta Negra também foram afetados.
A gestante Nayara Flores, de 35 anos, relata que chegou a passar mal devido ao calor e teve que dormir dentro do carro para se prevenir. Ela trabalha como auxiliar de serviços médicos e conta que o atendimento na área de saúde pública também foi impactado.
"Estou no terceiro trimestre de uma gravidez de risco devido a problemas de coração, tendo picos de pressão. Dentre esses dias, passei mal com o excesso de calor que estava fazendo. O posto de saúde da minha área estava funcionando em meia fase, sem ar condicionado. Toda vez que acaba a luz também ficamos sem sinal telefônico, ou seja, não consegui nem contato com familiares para ajudar", disse.
Leia também: Secretaria do Consumidor abre processo administrativo contra Enel
Nayara mora com o marido e ambos passam o dia fora de casa, à reportagem ela revela que paga em média R$ 300 por mês na conta de luz. O valor não corresponde a rotina de falta de energia.
"Como já é de costume faltar luz na região, principalmente em época de férias, festas e carnaval, já deixamos todos os eletrodomésticos desligados. Quando a luz retorna, vem com bastante potência, sobrecarregando os equipamentos e estourando as lâmpadas", completa a gestante.
Responsabilização
Na última semana, a 1ª Vara Cível de Maricá determinou que a Enel restabelecesse a energia no município sob multa diária por unidade consumidora que sofreu interrupção de R$ 500 reais por hora superior ao prazo estabelecido. A decisão ainda estabelece que a empresa apresente um plano de contingência e de ações emergenciais.
Diante dos recentes episódios de falha no fornecimento de energia elétrica em todo Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) anunciou que irá recomendar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a cassação de concessões de empresas de distribuição que interrompem a prestação do serviço por longos períodos.
O secretário nacional do consumidor, Wadih Damous, afirmou que o órgão pretende tomar medidas administrativas e legais após uma rodada de reuniões com empresas prestadores de serviços públicos de todo país. Wadih esteve no Rio de Janeiro esta semana para uma reunião com a concessionária de energia Light.
Leia mais: Brasil teve 1.161 desastres naturais em 2023
"Sabemos que no Brasil todo, com as mais diversas prestadoras de serviço e concessionárias tem acontecido episódios inaceitáveis. Falta de luz, demora excessiva no reestabelecimento na energia elétrica, e os prejuízos óbvios que isso causa em todas as suas dimensões, sobretudo para o povo mais pobre. Atinge o comércio, empresas, segurança pública, todas as relações sociais", disse após a reunião no Rio.
O que diz a Enel
Em nota enviada ao Brasil de Fato, a assessoria de imprensa da Enel Distribuição Rio informou que um desarme de um alimentador localizado no bairro de Inoã, em Maricá, causou a interrupção do serviço na noite de terça-feira (16), mas o fornecimento de energia foi restabelecido durante a madrugada.
"Para reforçar ainda mais o sistema da cidade, a companhia antecipou um investimento de R$ 1,5 milhão para a construção de 10 quilômetros de novas redes na cidade, além de mobilizar 45 técnicos para a realização de serviços de poda e manutenções da rede local, substituindo também alguns equipamentos", afirma o texto.
Leia também: Privatizações repetem o ciclo colonial de exploração
A empresa ainda destacou que investimentos na sua rede de distribuição no estado resultaram em melhores índices de qualidade medidos pela agência reguladora, de forma que reduziu em 45% a quantidade média das interrupções de energia e em 32% a duração média das interrupções.
