POLÍTICA

Manifesto contra Romeu Zema reúne assinaturas de mais de 50 blocos de carnaval em BH

Signatários denunciam que governo aplica recursos da festa de forma irregular e incentiva ação repressiva da PM

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Foto próxima do rosto de Romeu Zema
Documento afirma que o governador de Minas Gerais está “tentando capturar a imagem de grande fomentador” do período carnavalesco - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Um manifesto, assinado por 56 blocos de carnaval da capital mineira e divulgado na quarta-feira (24), denuncia a postura de Romeu Zema (Novo), em relação ao período da maior festa popular de Belo Horizonte.

Com o mote “Por um carnaval plural e com fomento para geral”, o documento afirma que o governador de Minas Gerais está “tentando capturar a imagem de grande fomentador” do período carnavalesco. Para os signatários do manifesto, que será entregue ao Ministério Público Estadual e à Defensoria Pública, a atuação de Romeu Zema tem o objetivo de alimentar disputas, com fins eleitorais.

“A história de luta e resistência do carnaval belo-horizontino é tão antiga quanto a criação da própria cidade. A experiência carnavalesca em BH, assim como no Brasil, é cultura popular, resultado da ação da sociedade. Não é de hoje que agentes públicos e privados tentam divulgar que são eles os responsáveis pela festa popular”, diz o texto.

Os blocos também denunciam que o governo utiliza verba voltada para o fomento aos trabalhadores da cultura como forma de se autopromover, não tem transparência, equidade e isonomia na utilização dos recursos públicos.

Além disso, o manifesto repudia a postura do vice-governador Mateus Simões (Novo), que recentemente deu declarações em coletiva de imprensa que, na avaliação dos signatários, estimulam “a atuação agressiva da Polícia Militar no carnaval”.

Entre os blocos que assinam a carta, estão a “Corte Devassa”, o “Então, Brilha” e o “Magnólia”.

Confira manifesto na íntegra:

Por um carnaval plural e com fomento pra geral

Manifesto aberto a assinaturas de blocos. Formulário para assinatura ao final.

A história de luta e resistência do carnaval belorizontino é tão antiga quanto a criação da própria cidade. Desde o seu surgimento, pelas mãos dos trabalhadores negros que construíram a capital, passando por sua existência comunitária e periférica, até a recente retomada festiva a partir de 2009,  a experiência carnavalesca em BH, assim como no Brasil, é cultura popular, resultado da ação da sociedade. Acontece que já não é de hoje que agentes públicos e privados tentam, insistentemente, divulgar para o grande público que são eles os responsáveis pela festa popular. Só que não!

Sem susto, assistimos desde o ano passado a um movimento de mão dupla ligado ao financiamento do carnaval da capital: de um lado, a negativa da iniciativa privada de investir recursos diretos na festa e, de outro, o governo estadual, inicialmente contrário à sua realização, tentando capturar a imagem de grande fomentador. Um movimento alimentando o outro. 

O investimento estadual no carnaval de BH é uma demanda histórica que vem sendo negligenciada pelo Governo Zema, ainda que a propaganda oficial queira divulgar o contrário. Tal negligência não impediu, no entanto, que o carnaval surja mais um ano com força. Neste contexto, o governo estadual vem atuando para alimentar disputas eleitorais com base na festa, adotando uma série de condutas questionáveis. 

A última – e bastante grave –, foi o posicionamento do governador, Romeu Zema, e do seu vice, Mateus Simões, dando liberdade para a atuação agressiva da polícia militar no carnaval. Praticamente um incentivo do governo ao abuso policial - "Quem não obedecer imediatamente à polícia vai tomar spray de pimenta mesmo, e com o aval do Governo de Minas. Isso é um aviso a todos os foliões", disse o vice-governador em vídeo veiculado pela imprensa. Nós conhecemos bem os alvos preferenciais do spray, da borracha e da bomba. Enumeramos as demais condutas:

2º - destinam de forma orientada, recursos das Leis de Incentivo à Cultura que deveriam, na verdade, fomentar diretamente os fazedores de cultura na ponta. Ou seja, o estado utiliza a verba de um mecanismo de fomento à sociedade civil para se autopromover a partir de recursos oriundos de empresas públicas. 

3º - fazem uso desses recursos públicos sem transparência e sem mecanismos que garantam equidade e isonomia aos diversos segmentos da sociedade. É uma grana dirigida pela Secretaria Estadual de Cultura e Turismo de forma discricionária! Vícios sérios que apontam arbitrariedade e até mesmo possíveis ilegalidades; 

4º - estimulam a homogeneização e a centralização da festa, investindo pesado na cultura do evento do corredor de trios, em detrimento da diversidade festiva e da sua regionalização. Matéria que já foi alvo, inclusive, de reclamação junto ao Ministério Público;

5º - buscam transformar o carnaval em uma peça de publicidade turística, atraindo de forma irresponsável um número enorme de pessoas para a festa, sem considerar a capacidade da cidade para recebê-las, desrespeitando moradores e foliões. 

Diante desses fatos e das disputas interesseiras que estão em curso, os blocos que assinam esse manifesto vem publicizar o seu repúdio e exigir:

1) Que os recursos públicos destinados pelo governo do estado ao carnaval de BH sejam distribuídos por meio de mecanismos transparentes e republicanos, com acesso universal e respeitando a diversidade cultural e regional que caracterizam a festa;

2) Que o Ministério Público de Minas Gerais apure possíveis irregularidades do Estado de Minas Gerais no direcionamento dos recursos da Lei de Incentivo à Cultura e no uso dos recursos públicos das empresas estatais, direcionando tais recursos e antecipando a aprovação de projetos em possível desconformidade com o que estabelece a legislação;

3) Que sejam estabelecidos canais oficiais e efetivos de diálogo entre os poderes públicos estadual, municipal e a sociedade civil para definir as diretrizes do carnaval de Belo Horizonte;

4) Que haja um esforço articulado entre poder público e sociedade civil junto à iniciativa privada para pressionar, sobretudo os segmentos que mais lucram com o carnaval, como as grandes marcas de bebidas, empresas de transporte e o grande setor hoteleiro e de alimentação, para que invistam diretamente nos blocos de rua e em infraestrutura para a cidade parte dos recursos que a festa gera na sua realização;

5) Que a Defensoria Pública de MG e o Ministério Público Estadual tomem medidas preventivas para coibir possíveis arbitrariedades de conduta policial durante o carnaval.

Subscrevem:

Bloco - Regional

Corte Devassa - Centro Sul

Toca Raul Agremiação Psicodélica -  Centro Sul

Mama na Vaca - Centro Sul

Bloco da Praia da Estação - Centro Sul

Bloco da Bicicletinha - Centro Sul

Filhos de Tcha Tcha - Nordeste

Vira o Santo - Nordeste

Sambô São Salvador - Noroeste

Ôôô Glória - Noroeste

Brócolis - Noroeste

CarnaKolping - Noroeste

Carna Rock SK8 - Noroeste

Transborda - Noroeste

Magnólia  - Noroeste   

Bloco do Peixoto - Leste

Tetê a Santa  - Leste

Blocomum - Leste

Filhotes - Leste                                                                                                                                                              

Tico Tico Serra Copo - Bloco Nômade

Bloco do Manjericão - Bloco Nômade

Cortejo do Zodíaco - Bloco Nômade

Mineira System - Leste

Lua de Cristal - Centro Sul

Queimando o Filme - Centro Sul

Sagrada Profana - Leste

Unidos do Barro Preto - Centro Sul

Pula Catraca - Nordeste

O Pior Bloco do Mundo - Oeste

Filhas de Gaby - Centro Sul

Andacunfé - Leste

Coco da Gente - Leste

Masterplano - Noroeste

Bloco do Prazer- Leste

Parque Já - O Grande Bloco do Encontro - Oeste

Então, Planta! - Leste

A Roda - Centro Sul

Bloco ClandesTinas - Centro Sul

Fita Amarela - Leste

Bloco Eu Avisei BH - Nordeste

Bloco Corpo Indecente - Centro-Sul

Bloco do Padreco - Noroeste

Bloco da Fofoca-Carimbó - Centro Sul

Bloco Bruta Flor - Centros Sul

Mientras Dura - Bloco nômade

Bloco sou Vermelho - Bloco nômade

Verônica Alves de Souza Medeiros - Leste

Ladeira Abaixo - Centro Sul

Bloco da Esquina - Leste

Bloco Fita Amarela - Leste

Bloco Fúnebre - Centro Sul

Coletivo Mar de Morro .  Bloco nômade

Unidos da Estrela da Morte - Centro Sul

Trovão das Minas - Centro Sul

Tira o Queijo - Centro Sul

Baque de Mina - Centro Sul

Então, Brilha! - Centro Sul

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Larissa Costa