Avião preso

Venezuela diz que Argentina quer cobrar por estacionamento de avião retido em Buenos Aires

Ministro dos Transportes afirma que Empresa Argentina de Navegação Aérea cobrou US$ 7 mil por estacionamento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O avião da empresa venezuelana está detido na Argentina desde 2022 - SEBASTIAN BORSERO / AFP

O ministro dos Transportes da Venezuela, Ramón Celestino Velásquez Araguayán, disse nesta terça-feira (6) que a Argentina pretende cobrar pelo estacionamento do avião da estatal venezuela Emtrasur retido no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. A aeronave está interditada desde junho de 2022 por um tratado de cooperação judicial entre o país e os Estados Unidos.

Araguayán publicou um vídeo com prints de mensagens e emails supostamente enviados pela Empresa Argentina de Navegação Aérea (Eana) cobrando o pagamento de US$ 7.066,20 (R$ 35.104,88 na cotação atual). De acordo com o vídeo publicado pelo ministro, o pagamento deve ser feito em até 5 dias úteis do recebimentos dos emails. A cobrança é referente ao aluguel apenas do mês de junho de 2022. Não está claro se a Eana vai cobrar todo o aluguel retroativo. 

Na publicação, o ministro disse que o avião foi “sequestrado” e que todas as regras que regulam a aviação civil foram “violadas”. Também afirmou que não foram comprovadas irregularidades contra a tripulação e os passageiros depois que eles foram liberados.

A Emtrasur é responsável por transportes de carga e pertence à companhia aérea estatal Conviasa. O Boeing 747 da empresa está impedido de deixar a Argentina desde 8 de junho. A Justiça portenha, que não encontrou nenhuma irregularidade na aeronave e na tripulação até o momento, justifica a retenção do avião por conta de um tratado de cooperação judicial com os EUA.

Para reter o avião, a Justiça do país teve como base alegações de deputados da direita argentina, da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) e da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA). Os grupos afirmam que alguns integrantes da tripulação estão ligados ao atentado ao prédio da AMIA que ocorreu em Buenos Aires, em 1994, e deixou 85 pessoas mortas. 

As denúncias dos grupos se baseiam no fato de que 5 dos 19 integrantes da tripulação do avião são iranianos. Os governos da Argentina, EUA e Israel acusam o Irã de ter cooperado com o grupo armado libanês Hezbollah no ataque. No entanto, a cooperação iraniana foi descartada por órgãos de inteligência ao longo das investigações.

O avião da Emtrasur aterrissou pela primeira vez na Argentina no dia 6 de junho, proveniente do México, trazendo peças de automóveis. O plano inicial da tripulação era abastecer a aeronave e retornar à Venezuela, mas o combustível foi negado em solo argentino. Dois dias depois, o Boeing venezuelano rumou ao Uruguai, onde havia sido prometida a liberação de abastecimento. Durante o voo, entretanto, as autoridades uruguaias decidiram negar a entrada do avião em seu território, forçando a tripulação a retornar à Argentina.

Em 8 de junho, os passaportes dos 19 tripulantes foram retidos e a carga foi inspecionada pela primeira vez. Desde então a aeronave não pode deixar o aeroporto de Ezeiza.

A Justiça da Argentina decidiu liberar em setembro 12 dos 19 tripulantes. Os últimos tripulantes foram liberados 3 meses depois.

Em outubro de 2022, um promotor do Distrito de Columbia nos EUA pediu a cassação do Boeing 747 da Emtrasur, alegando que ele teria sido comprado da empresa iraniana Mahan Air. A Justiça argentina determinou em janeiro de 2024 que o país enviaria o avião aos EUA. 

O governo venezuelano de Nicolás Maduro rejeitou a medida. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que, ao acatar um pedido dos EUA, o governo argentino se “submetia aos poderes do imperialismo” e “viola acordos bilaterais”. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho