Festa e prevenção

Covid e Carnaval: registros da doença aumentam em algumas regiões e acendem alerta

Aglomerações da folia podem potencializar crescimento da doença, que ainda causa cerca de 200 mortes por semana no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Casos já vinham em alta desde o começo do ano, superando a marca de 34 mil seguidamente desde a segunda semana de janeiro - © Carl de Souza / AFP

O número de novos casos semanais de Covid-19 no Brasil permanece acima de 30 mil há mais de quatro semanas e o período do Carnaval aumenta as preocupações. Cenário semelhante não é observado desde abril do ano passado.  

Informações do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) apontam que, a partir da segunda semana deste ano, o total de infecções registradas passou a superar a marca de 34 mil seguidamente. O resultado pode ser maior, já que testes caseiros não reportados ao sistema de saúde não são contabilizados e há pessoas que nem mesmo são testadas. 

A mais recente edição do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com dados até 3 de fevereiro, mostra tendência de alta no número de pessoas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) associada ao coronavírus em Mato Grosso e em Goiás, no Centro-Oeste, e em diversos estados da região Norte, a exemplo do Amazonas, Tocantins e Pará. 

Ainda de acordo com o levantamento, também há sinalização de crescimento no Acre e em Rondônia, embora com menor força. Quatro capitais seguem a tendência de aumento da síndrome por causa da Covid-19, Belém, Cuiabá, Manaus e Palmas.  

Na cidade de São Paulo, os números também escalaram. Nas primeiras semanas de janeiro, o total diário de novos casos chegava, no máximo, a superar 160. Desde 28 de janeiro, no entanto, os registros estão acima de 300 novas infecções por dia, com datas em que chegaram a mais de 450. 

Os dados da prefeitura da capital paulista foram processados pela equipe de pesquisa da plataforma Infortracker, desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo o matemático Wallace Casaca, coordenador do projeto, os números ainda devem aumentar. 

"Teremos mais diagnósticos positivos para a semana passada e para as próximas semanas. É uma constatação, pela conjunção de efeitos do Carnaval, festas de final e ano e, sobretudo, pela propagação de novas subvariantes em solo nacional, que são mais transmissíveis e com escape maior."

A média nacional de casos da SRAG se manteve estável nas últimas três semanas até 5 de fevereiro. Mesmo assim, o pesquisador do Programa de Computação Científica (Procc/Fiocruz) e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, alerta para os cuidados, especialmente para quem faz parte dos grupos mais vulneráveis. 

"A recomendação, especialmente para quem é grupo de risco, pessoas de idade avançada ou pessoas com o sistema imunológico comprometido, é não brincar o Carnaval este ano, ficar em casa, curtir os desfiles pela TV, escutar pelo rádio. Para não correr o risco de acabar se expondo e, eventualmente, desenvolver um caso grave. Sabemos que o Carnaval tem muita aglomeração, muita gente próxima uma da outra, isso é que é o bacana do Carnaval. Mas, infelizmente, traz um risco de exposição extremamente importante, mesmo que seja em locais abertos." 

Ele também ressalta a importância do distanciamento social para quem apresenta sintomas respiratórios. "Há um recado importante também para todo o país e todas as faixas etárias, pessoas que estão com quadro de infecção respiratória, sintomas de resfriado ou gripe, precisam ficar de repouso e em casa, para não expor o restante da população." 

A covid-19 ainda responde por mais de 90% dos óbitos ligados a infecções por vírus respiratórios no Brasil. Somente em 2024, mais de 960 pessoas morreram por causa do coronavírus. Desde que a doença passou a circular em território nacional, o país perdeu mais de 709 mil pessoas. 

Edição: Matheus Alves de Almeida