Sem moradia

População relata violência policial em tentativa de ocupação no centro de São Paulo

Pessoas que estavam no local afirmam que três mulheres foram atingidas por estilhaços de bombas de gás

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Famílias foram detidas no local e só conseguiram liberação com a intervanção da defensoria pública - Reprodução de vídeo

Um grupo de pessoas que tentava ocupar um prédio na região central da cidade de São Paulo denunciou violência por parte de forças de segurança chamadas ao local. Na noite desta segunda-feira (12), as famílias tentaram entrar em um dos prédios do complexo conhecido como Edifício Lutétia. 

De acordo com os relatos, três mulheres foram atingidas por bombas de gás e os agentes também usaram spray de pimenta na ação.

As famílias chegaram a acessar o local, mas foram retiradas do imóvel após a polícia conseguir arrombar a porta, conta Michelle Alves, que integra o movimento. Ela relata que, antes da polícia chegar, um segurança do local fez ameaças com uma arma ao grupo. Ele estava acompanhado de uma mulher que segurava um objeto semelhante a um facão. 

“A Guarda Civil Metropolitana (GCM) conseguiu entrar e jogou muita bomba de gás. Acertou três das nossas companheiras nas nádegas, nas coxas e no peito. Nós pedíamos toda hora para ter paz e eles jogavam gás de pimenta nos nossos olhos”, afirma. 

Segundo Michelle Alves, o grupo afirmou que o movimento era pacífico em diversos momentos. “Foi uma resposta muito violenta e não precisava de tudo aquilo. Nós queríamos ficar porque nós precisamos de moradia digna e de um teto. Quantos prédios estão desocupados, sem função, com lixo, com acúmulo de entulho. Nós só queríamos entrar para ocupar.” 

Parte das pessoas foi contida no local e um defensor público participou das negociações para liberar as famílias. Dois homens foram levados à delegacia. Eles foram liberados, mas, de acordo com Michelle Alves, tiveram que assinar um auto por tentativa de agressão. 

O Edifício Lutétia fica na histórica Praça do Patriarca e é composto por três prédios com entradas autônomas. Ele foi projetado na década de 1920 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, que atendia à elite paulistana na época. O conjunto pertencia à família Álvares Penteado, uma das mais ricas da oligarquia do café. 

Projetado para abrigar escritórios e lojas, o complexo acompanhou a precarização do centro de São Paulo no século seguinte. De lá para cá, serviu a diversos propósitos e abrigou até mesmo um museu. Hoje, um dos símbolos da riqueza dos barões do café no passado está sem uso.

O Brasil de Fato buscou contato com a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo e a Secretaria Municipal de Segurança Urbana da cidade de São Paulo. Não houve resposta até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Edição: Matheus Alves de Almeida