Wikileaks

Julgamento de Assange é combinação de 'farsa com tortura psicológica', diz ativista da Alba Movimentos

Decisão sobre extradição do fundador do Wikileaks deve ser anunciada nesta quarta-feira

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestante com cartaz de Julian Assange em frente ao Supremo Tribunal da Grã-Bretanha, no centro de Londres, na terça-feira 20 de fevereiro - Daniel Leal / AFP

O processo dos Estados Unidos contra o jornalista Julian Assange, que deve ter mais um capítulo de sua saga decidido nesta quarta-feira (21), é combinação de "farsa combinada com tortura psicológica", na avaliação de Giovani del Prete, membro da Secretaria Continental da Alba Movimentos, que integra a campanha internacional de solidariedade à Assange.  

Questões de saúde impediram  Assange de comparecer à primeira sessão do julgamento que pode determinar que ele seja extraditado do Reino Unido para os Estados Unidos. O julgamento acontece nesta terça e quarta-feira (20 e 21) na capital britânica, Londres.

Com 52 anos, Assange está sendo processado nos Estados Unidos por ter publicado, desde 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas do país, especialmente no Iraque e no Afeganistão. Ele foi detido pela polícia britânica em 2019, após sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar extradição para a Suécia.  

"Durante todo esse período, de mais de 10 anos de perseguição, Julian Assange está preso sem ter sido condenado e isso representa tortura psicológica" ressalta Del Prete, com base nas análises  feitas pelo ex-relator especial da ONU sobre tortura e tratamento cruel e desumano, Nils Melzer. Autor do livro O Processo: Julian Assange, Melzer detalha o trâmite jurídico contra Assange e denuncia a conivência dos governos dos EUA, Reino Unido, Equador e Suécia com a situação do jornalista. 

"Todo o processo de perseguição com o Assange envolve representantes desses países que estão envolvidos no aprofundamento dessa tortura psicológica, um silenciamento do trabalho do jornalista e a criminalização do jornalismo", aponta Del Prete.

Ele avalia que a perseguição ao jornalista fundador do Wikileaks é um atentado explícito à liberdade de expressão e se torna ainda mais grave no contexto do conflito no Oriente Médio, onde diversos países, entre eles o Brasil, denunciam o massacre de Israel contra Gaza. 

"É uma intimidação pra toda e qualquer pessoa que expõe crimes de guerra e atenta diretamente contra a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão. Valores que os Estados Unidos dizem ter como caros pra sua democracia, mas não pensam duas vezes em calar aqueles que expõem seus crimes."

O advogado de Julian Assange defendeu nesta terça-feira (20) a liberdade de informação, no julgamento em Londres. Edward Fitzgerald também mencionou "motivações políticas" na ação de extradição analisada no julgamento.

"Meu cliente está sendo processado por realizar uma prática jornalística comum, de obter e publicar informações confidenciais, informações verdadeiras e de interesse público evidente e importante", afirmou Fitzgerald no Tribunal Superior de Justiça de Londres.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras visitou o jornalista em janeiro, na prisão de segurança máxima de Belmarsh, a leste de Londres, onde está detido há quase cinco anos, e afirmou nesta terça que Assange está doente e quebrou uma costela devido a uma tosse excessiva

"Isto reforça os riscos para sua saúde física e mental que existem nas atuais condições de detenção, que se agravariam se ele fosse extraditado", afirmou a ONG.
 

Última chance para evitar extradição

Dois juízes britânicos irão examinar a decisão do Tribunal Superior de Justiça de Londres, tomada em 6 de junho, de negar a Assange a permissão para recorrer de sua extradição para os Estados Unidos, aceita em junho de 2022 pelo governo britânico.

Se Assange falhar nesta última tentativa perante a justiça britânica, ele terá esgotado todas as vias de recurso no Reino Unido. No entanto, um último recurso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) "ainda é possível", afirmou o grupo de apoio "Free Assange" em um comunicado divulgado em dezembro.

*Com AFP

Edição: Rodrigo Durão Coelho