No último sábado (17), um intenso tiroteio na rua Francisco Furtado, em Honório Gurgel, na zona norte do Rio de Janeiro, assustou moradores do bairro. A cena, registrada por câmeras de segurança de casas da região, flagrou policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) trocando tiros com uma equipe à paisana do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
Nas imagens é possível ver um grupo correr ao som de tiros. Policiais avançam em direção aos homens junto com um carro da PM. Um policial à paisana começa a atirar e os agentes do Bope respondem. Um intenso tiroteio acontece por cerca de um minuto. A situação só é controlada quando o agente sem farda se identifica como policial. Ninguém ficou ferido, mas houve danos materiais para os moradores.
A falta de comunicação dentro da Polícia Militar é criticada pelo professor do departamento de Segurança Pública e pesquisador do Institutos de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lenin Pires. O antropólogo ressalta o descuido com toda a população que vive na região.
"Esse episódio mostra, em primeiro lugar, que uma ação da polícia em uma área residencial está dissociada de todo e qualquer compromisso de informar às pessoas daquele lugar que algo dessa natureza pode ocorrer. A coisa piora bastante quando uma organização como a Polícia Militar sequer faz com que a conversa ocorra dentro dela mesma, porque tanto o 9° Batalhão quanto o Bope pertencem à PM. Então, você tem duas operações ocorrendo sem que essas agências da PM sejam informadas e deu no que deu. Um monte de tiro, com risco para as pessoas, depauperando patrimônio, risco de matar um agente e depois tudo se encerra num 'foi mal'", comenta Pires.
Para o coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), Daniel Hirata, o caso também evidencia uma desorganização da cadeia de comando e controle, responsável por coordenar as ações dos batalhões especiais e dos batalhões de área. Aponta ainda para uma excessiva autonomização dos batalhões. Na avaliação do pesquisador, este modo de operar favorece a milícia.
"Forças policiais que funcionam de maneira hierárquica e controlada têm uma tendência menor a se constituírem em grupos que podem atuar de forma independente e criminal. Não quero dizer que o 9° Batalhão e nem o Bope são milicianos, mas que essa lógica de funcionamento equivocada é um dos elementos que favorece o surgimento das milícias", explica Hirata.
O que diz a PM?
O Brasil de Fato procurou a Polícia Militar. Por meio de nota, a PM informou que 14 criminosos foram presos na operação e que a corporação já está com as imagens, que serão analisadas e estudadas entre as equipes operacionais da instituição para que episódios como este não aconteçam novamente.
Segundo a assessoria da PM, o comando da Secretaria de Estado de Polícia Militar também determinou que o comando da 9º BPM, responsável pelo policiamento na área do ocorrido, busque informações sobre os proprietários dos veículos e moradores no intuito de sanar as necessidades apresentadas.