SOLIDARIEDADE

Sindicatos nos Estados Unidos se unem pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza

Grupo é formado por sete grandes sindicatos e mais de 200 seções sindicais por todo o país

Brasil de Fato | Nova York (EUA) |

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Apesar de apoiar a reeleição de Biden, o UAW está batendo de frente com a posição do governo em relação à Palestina - AFP

Em resposta ao massacre israelense de palestinos na Faixa de Gaza, e sobretudo à posição da Casa Branca em relação ao conflito, trabalhadores nos Estados Unidos criaram a Rede Nacional Trabalhista pelo Cessar-fogo.

O grupo é formado por sete sindicatos nacionais e mais de 200 seções sindicais por todo o país, e representam uma pressão a mais para o governo Biden. Eles exigem o fim do apoio incondicional a Israel adotada por Biden desde 7 de outubro, início do massacre, após ataques do Hamas em território israelense. 



O presidente vem enfrentando pressões do tipo há meses, inclusive dos próprios funcionários da Casa Branca que fizeram um abaixo assinado e uma manifestação em frente à sede do governo federal pedindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O apelo dos sindicalistas, porém, pode ter um impacto maior.

A força dos sindicatos

Grant Miner, vice-presidente do Sindicato dos Estudantes Trabalhadores da Universidade de Columbia, uma seção sindical do UAW, conversou com o Brasil de Fato sobre o assunto.

“Eu realmente acredito que se os sindicatos forem sérios sobre se livrar, e publicamente se opor, ao apartheid, isso pode pressionar o governo dos EUA”, afirmou Miner.

E ele deu exemplos: “a Colt está organizada no UAW. A Colt, empresa de armas. Tem uma fábrica em Connecticut. E se as pessoas não quiserem mandar armas para Israel, isso não vai acontecer. O governo dos Estados Unidos não consegue forçar esses trabalhadores a irem trabalhar e produzir essas armas para serem enviadas a Israel”, disse Miner.

Uma greve em solidariedade à Palestina, porém, é algo improvável. E o motivo principal é a lei: greves só são permitidas no país quando são contra o empregador. Paralisações em solidariedade a vítimas de um genocídio, por exemplo, são consideradas ilegais.

Ainda assim, o movimento sindical tem força pra disputar a opinião pública e as políticas do governo, principalmente após um ano de grandes vitórias, que tornou o apoio aos sindicatos ainda maior. E o apelo por um cessar-fogo vem de setores completamente diferentes, até mesmo dos mais improváveis.

A moral alta dos sindicatos gera maior peso político

“Um dos sindicatos cruciais aqui é a Federação Americana de Professores. São quase 2 milhões, historicamente com muitos judeus, e muitas vezes com uma política internacional neoconservadora”, explica Nelson Lichtenstein, especialista em história do trabalho da Universidade da Califórnia Santa Bárbara.

O professor conta que “a Federação Americana de Professores não faz parte desse grupo, mas divulgou uma nota na qual usa a palavra cessar-fogo. Eles defendem uma negociação bilateral por um cessar-fogo”. Na opinião de Lichtenstein, “isso é bastante significativo”.

O apoio a Biden

Dentre os sindicatos que estão na rede nacional pelo cessar-fogo, um destaque vai para o UAW. O sindicato foi responsável pela greve vitoriosa do trabalhadores da indústria automobilística e recentemente apoiou a reeleição de Joe Biden.

O apoio do UAW é central para a campanha do presidente, sobretudo visto a importância de Michigan, que é o centro político do sindicato e também faz parte dos chamados estados pêndulos - os estados que ora votam majoritariamente nos republicanos, ora nos democratas.

“Os sindicatos não têm um monte de dinheiro para os democratas, mas eles têm um monte de gente”, diz o professor, “e se tiver uma grande divisão entre os sindicatos - e muitos deles têm muitas pessoas negras, latinas, jovens - e a administração Biden, então isso pode ser fatal para os democratas em novembro”.

Grant Miner afirmou que o apoio a Biden não agradou a todos, mas destaca que há uma convicção entre os membros do sindicato de que um segundo mandato de Trump seria devastador para o movimento trabalhista.

O apoio maior dele, porém, foi à declarações recentes do presidente brasileiro: “eu sou judeu. E nós temos muitos judeus na nossa seção sindical que concordam totalmente com Lula. O furor todo que Israel faz sobre essas coisas… ninguém cai nessa. Ninguém veio até mim e disse ‘você viu o que o Lula disse?’ ou ‘você viu que absurdo isso?’. É algo que todos nós concordamos. Israel quer se fazer de vítima. E, francamente, a gente não cai nessa. A gente não cai”, afirmou o sindicalista.

Edição: Rodrigo Durão Coelho