Diálogos de Paz

Guerrilha ELN e governo voltam a apresentar divergências durante negociações de paz na Colômbia

Administração Petro anuncia criação de 'Região de Paz' e mas grupo ELN nega acordo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
De acordo com o chefe do ELN, os “supostos guerrilheiros” que estão participando dos debates estão protegidos pelo governo - Raul ARBOLEDA / AFP

O governo da Colômbia anunciou neste sábado (9) a criação de uma Região de Paz no Estado de Nariño. De acordo com o Alto Comissariado para a Paz, o objetivo é elencar prioridades e definir as necessidades e investimentos para promover a “transformação territorial”. A medida teria sido tomada depois de conversas com o grupo Comuneros do Sul, uma estrutura do Exército de Libertação Nacional (ELN) que atua na região.

Mas o chefe do ELN, Antonio García, negou que esse diálogo tenha sido realizado. Em publicação na rede social X, ele disse que o objetivo do governo é “criar um show com uma suposta desmobilização, para mostrar um ELN rachado”. Ainda de acordo com García, os “supostos guerrilheiros” que estão participando desses debates estão protegidos pela Unidade de Polícia para a Construção da Paz e pelas Forças Militares do Estado.

 

 

A decisão de abrir diálogos regionais pela paz já havia sido questionada pelo ELN. O grupo afirmou que o governo está desrespeitando os acordos de cessar-fogo firmados nas mesas de negociação a partir de negociações “por fora do processo nacional” no Estado de Nariño. As negociações de paz oficiais envolvem o ELN, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Conferência Episcopal colombiana. Com isso, o grupo disse que as negociações por paz com o governo estariam “congeladas” e que o processo estava em “crise aberta”. 

Em nota, o governo respondeu pedindo respeito ao presidente Gustavo Petro e aos outros funcionários que fazem parte das negociações com o grupo armado.

Segundo o governador de Nariño, Luis Alfonso Escobar, a primeira etapa para as Regiões de Paz é estabelecer os modelos de paz, instrumento para traçar caminhos a seguir, enumerando e priorizando as necessidades das comunidades e definindo investimentos para a articulação necessária. Os primeiros investimentos serão para a construção de três escolas e um hospital. 

Negociações com o EMC

O Alto Comissariado para a Paz divulgou neste domingo (11) um documento com as resoluções a 4ª mesa de diálogos com a principal dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o Estado-Maior Central (EMC). Este ciclo foi realizado de 4 a 9 de março em San José del Guaviare.

No documento, as partes se comprometeram a continuar as discussões e a avaliar e monitorar se as regras estabelecidas para o cessar-fogo estão sendo cumpridas. O acordo também estabelece uma comunicação permanente para evitar confrontos.

O EMC tinha um acordo de cessar-fogo com o governo desde outubro de 2023. Em janeiro, as duas partes prorrogaram a trégua até 15 de julho. 

Política de paz

O diálogo permanente com os grupos armados é uma das políticas implementadas pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, desde o início do seu mandato em 2022. O presidente transformou a Paz Total em uma política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.

As negociações com o ELN se somam a outras mesas de diálogos estabelecidas pelo governo. Até agora, o Estado conseguiu abrir diálogos com a Segunda Marquetalia e com o Estado Maior Central (EMC), dois grupos surgidos de dissidências das Forças Armadas Colombianas (Farc).

O ELN - grupo que lutava ao lado, mas não integrava as Farc - foi o primeiro a assinar um Acordo de Paz com o Estado colombiano em 2016, durante o governo de Juan Manuel Santos. Após o acordo, sete mil guerrilheiros ingressaram na vida civil, as Farc entregaram as armas e se transformaram no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum.

Edição: Rodrigo Durão Coelho