Diplomacia chinesa

Chanceler chinês diz que 'Sul Global deixou de ser a maioria silenciosa'

Wang Yi defendeu que ONU precisa de reformas para aumentar a representatividade e voz dos países em desenvolvimento

Brasil de Fato|Pequim (China) |
Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em coletiva de imprensa às margens das Duas Sessões no Grande Salão do Povo em Pequim - Chen Yehua | Xinhua

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, destacou a participação cada vez maior dos países do chamado Sul Global na economia mundial, que subiu de 19% em 1990 para 40% atualmente e ressaltou que seu país "foi e sempre será" integrante do grupo. 

“O Sul Global deixou de ser a maioria silenciosa e se tornou uma força crucial para a reforma da ordem internacional e para a esperança de um mundo com mudanças que não possuem precedentes em um século”, disse ele, durante o principal evento político do ano na China, as Duas Sessões.

“A China foi, é e será um membro firme do Sul Global, partilhando sempre o mesmo fôlego e futuro com todos os outros países do Sul, e permanecendo sempre como um pilar para o desenvolvimento e revigoramento do Sul Global”, disse ele.

Além de chanceler, Wang Yi, integra o escritório Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e fez as declarações a mais de 600 jornalistas chineses e estrangeiros durante as Duas Sessões. Ele abordou temas como a relação da China com diversas regiões e países, o genocídio contra a população de Gaza, a crise na Ucrânia, a expansão do BRICS, entre outros tópicos da geopolítica. 

Wang Yi caracterizou 2024 como “um ano de boa colheita para a cooperação do Sul Global e um novo ponto de partida para a unidade entre a Ásia, a África e a América Latina e o Caribe”, destacando que este ano será o vigésimo aniversário do Fórum de Cooperação China-Estados Árabes, a primeira década do Fórum China-Celac. Yi saudou a realização da Cúpula do BRICS+ em outubro na Rússia e o Brasil como anfitrião da Cúpula do G20 em novembro.

O chanceler, que se tornou diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores do PCCh (o cargo mais alto da diplomacia chinesa), fez uma defesa da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele disse que para a China só existe um sistema no mundo, que é o sistema internacional centrado na ONU, apenas uma ordem que é a ordem internacional baseada no direito internacional, e um só conjunto de regras que são as normas básicas das relações internacionais baseadas nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.

Porém, assim como o Brasil sob Lula, o gigante asiático está entre os países que defendem uma reforma da ONU para aumentar a representatividade e o direito à voz dos países em desenvolvimento. Ele também reiterou o apoio chinês para que a Palestina se torne membro de pleno direito da ONU e apelou a que “um determinado membro do Conselho de Segurança não volte a impor obstáculos a este respeito”.

Genocídio na Palestina

Recentemente, a China defendeu na Corte Internacional de Justiça o direito inalienável da Palestina à resistência armada. Em relação ao massacre da população em Gaza cometido por Israel, que já soma o assassinato de mais de 31 mil civis e mais de 72 mil feridos, o diplomata disse que “não há desculpa que possa explicar o prolongamento do conflito, nem há qualquer pretexto que possa justificar o assassinato de civis”. 

O país asiático defende o cessar-fogo como tarefa prioritária e a garantia da ajuda humanitária “como uma responsabilidade moral que não pode ser adiada”. 

Sinais contraditórios

Ao ser consultado sobre às crescentes restrições tecnológicas impostas pelos EUA à indústria chinesa, Yi reconheceu que a partir do encontro entre Xi e Biden em São Francisco, na Califórnia no ano passado, as relações melhoraram, mas destacou que “os EUA continuam com as suas percepções erradas sobre a China e não cumpriram eficazmente os seus compromissos”.

“As medidas repressivas contra a China são aplicadas uma após a outra, a lista de sanções unilaterais aumenta e as falsas acusações são totalmente absurdas”, disse provavelmente em referência, entre outras, às acusações de trabalho forçado em Xinjiang, pelas quais os EUA baniram importações de algodão e tomate dessa região. 

“Se os EUA sempre dizem uma coisa e fazem outra, onde está a sua credibilidade como um grande país? [...] Se os EUA querem apenas preservar a sua própria prosperidade e não permitem o desenvolvimento justo dos outros, onde está a justiça internacional?”, questionou.  

Também consultado sobre as relações com a União Europeia, o chanceler lembrou o documento em que o Parlamento europeu afirma que a China é ao mesmo tempo sua “parceira, concorrente e rival sistémica”.  “É como estar em um carro em um cruzamento com as luzes vermelha, amarela e verde acesas ao mesmo tempo. Como o carro deve agir nesse caso?”. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho