Voto e confito

No 1º dia de votação, Putin acusa Ucrânia de ataques para 'perturbar eleições' na Rússia

Em protesto, eleitores violam urnas em várias regiões; eleições presidenciais acontecem em meio a ataques ucranianos

Brasil de Fato | Moscou (Rússia) |
Pleito começa nesta sexta-feira e deve durar até domingo (17) - NATALIA KOLESNIKOVA / AFP

As eleições presidenciais russas começaram nesta sexta-feira (15) e vão até domingo (17). Segundo a Comissão Eleitoral Central, mais de 25% dos russos já deram o seu voto. A votação acontece tanto de forma eletrônica, presencialmente ou por internet, quanto por meio de cédulas de papel. 

O primeiro dia do pleito foi marcado por alguns atos de protesto, com violações em urnas e zonas eleitorais. Em São Petersburgo, uma mulher chegou a jogar um coquetel Molotov contra uma zona eleitoral e foi detida em seguida. Não houve feridos. 

Nas regiões de Moscou, Voronezh, Rostov no Don, Karachay-Cherkessia e na Crimeia, houve casos de urnas que foram preenchidas com tinta verde brilhante. Já na região de Ivanovo, um eleitor idoso ateou fogo em uma urna. Também houve tentativas de incendiar cabines de votação em Moscou, Mytishchi e Kogalym. Em todos os casos, os enolvidos nos incidentes foram detidos e devem responder por processos criminais. 

Votação em meio à guerra

A região russa de Belgorod, que faz fronteira com a Ucrânia e tem sido alvo de constantes bombardeios, teve a sirene de mísseis da cidade ativada quatro vezes apenas nesta sexta-feira (15). 

Além disso, o Ministério da Defesa russo relatou que drones e mísseis foram abatidos na região. De acordo com a pasta, os sistemas de defesa aérea de serviço abateram cinco projéteis disparados do sistema de lançamento múltiplo de foguetes RM-70 Vampire.

O presidente russo, Vladimir Putin, se pronunciou nesta sexta-feira e afirmou que a Ucrânia está "atacando assentamentos pacíficos na Rússia para perturbar as eleições presidenciais". De acordo com ele, "os ataques não ficarão impunes".

Durante uma reunião com membros permanentes do Conselho de Segurança Russo, Putin afirmou que "cerca de 95% dos mísseis e projéteis inimigos foram destruídos pelos sistemas de defesa aérea" da Rússia.

Segundo o ministro regional da Saúde, Andrei Ikonnikov, 31 pessoas ficaram feridas por conta dos bombardeios nos dias 14 e 15 de março. O governador regional Vyacheslav Gladkov declarou que, durante o mesmo período, pelo menos três pessoas morreram. A Ucrânia não comentou os ataques perpetrados esta semana na região de Belgorod.

Eleição previsível

As eleições presidenciais russas vêm sendo encaradas como um processo de confirmação da autoridade de Putin. Nenhum dos atuais candidatos representa uma oposição forte ao governo e tem chances reais de chegar ao segundo turno. Os concorrentes de Putin não apresentam críticas contundentes ao governo e, em linhas gerais, defendem a "operação militar especial" na Ucrânia.

A permanência do conflito ucraniano impele o Kremlin a demonstrar que há normalidade e estabilidade política no país, além de confirmar um alto índice de aprovação de Putin. Outros três candidatos disputam o cargo: Vladislav Davankov, do Partido Novo Povo, Leonid Slutsky, do Partido Liberal Democrata, e Nikolai Kharitonov, do Partido Comunista. Apenas Davankov, político mais jovem e de um partido novo, adota um tom mais moderado em relação à guerra, defendendo negociações para resolver o conflito, mas destacando que essas negociações deveriam acontecer "sob as condições da Rússia".

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia (Vtsiom), divulgada na última segunda-feira (11), Putin tem 82% das intenções de voto. Nikolai Kharitonov e Vadislav Davankov têm 6% e Leonid Slutsky, 5%. Considerando que a votação na Rússia é facultativa, a expectativa é de que 71% da população compareça à votação, segundo a pesquisa do Vtsiom.

Com a vitória tida como certa, o presidente russo assumirá o seu quinto mandato no país. De acordo com a atual Constituição, alterada por referendo em 2020, Putin ainda tem direito se reeleger nas eleições seguintes, podendo ficar no poder até 2036.

Edição: Lucas Estanislau