ATRASO

Vale não retirou nem um terço dos rejeitos do Rio Paraopeba, cinco anos depois do crime

No ritmo atual dos trabalhos, seriam necessários mais dez anos para completar o planejamento

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Retirada lenta e pouco eficiente dos rejeitos pode potencializar os danos socioambientais causados pelo crime da Vale - Foto: Mídia NInja

Cinco anos depois do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), pouco foi feito em relação à retirada de rejeitos e à recuperação do ecossistema. 

Segundo informações divulgadas pela AECOM, empresa responsável pela auditoria do Plano de Recuperação Socioambiental de responsabilidade da mineradora, nem um terço do trabalho de dragagem foi concluído. Até agora, as atividades limitaram-se apenas ao trecho próximo da confluência do rio Paraopeba com o ribeirão Ferro Carvão.

Os dados foram apresentados no final de fevereiro durante a reunião de repasse trimestral, na qual a auditora apresenta às instituições de Justiça e ao governo de Minas um balanço das atividades executadas pela mineradora no âmbito do plano. 

Para Mônica Campos, pesquisadora do Instituto Guaicuy, a retirada lenta e pouco eficiente dos rejeitos pode potencializar os danos socioambientais causados pelo crime da Vale. 

“Existe a possibilidade de que esse material seja progressivamente arrastado em direção à represa de Três Marias e, com isso, os possíveis efeitos nocivos de várias substâncias potencialmente tóxicas na composição dos rejeitos ocorram ao longo do tempo, acarretando em prejuízos para o meio ambiente e para os organismos vivos”, analisa. 

A especialista explica que, com a bioacumulação (processo em que certas substâncias se acumulam e aumentam sua concentração ao longo das cadeias alimentares), as consequências podem chegar até as pessoas que consomem alimentos provenientes dali, como os peixes. 

O que foi feito até agora?

Segundo o Plano de Recuperação Socioambiental, a estimativa acordada era de que, até o final deste ano, a retirada de rejeitos cobrisse cerca de 54 km do Rio Paraopeba. Porém, de acordo com os últimos dados, apenas 10% foram alcançados, o que representa 550 metros. 

A AECOM pontua que, ao considerar o que ainda falta e o ritmo do andamento dos trabalhos, dez anos seriam necessários para completar o planejamento. Em relação ao volume, estima-se que 1,5 milhões de m³ devem ser retirados da calha. Entretanto, atualmente, o volume retirado não alcançou nem 500 mil m³, que representa 33 % do total. 

O documento da auditora também afirma que a Vale não apresentou laudos laboratoriais que devem comprovar a completa limpeza do rio para todas as áreas já dragadas, de acordo com o que era previsto no plano. 

No último encontro entre mineradora, auditoria, Instituições de Justiça e governo de Minas foi acordada a atualização do plano plurianual ainda em março desse ano.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Vale afirmou que segue trabalhando na remoção dos rejeitos da barragem B1, de acordo com os parâmetros do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema), auditados pela Auditoria Técnica Independente e submetidos à aprovação dos órgãos competentes. 

Segundo a mineradora, até o momento, foi removido um terço do rejeito, e os trabalhos estão concentrados nos quilômetros iniciais, em função do maior volume de rejeitos depositados.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Leonardo Fernandes